Sou Durvalina Ribeiro de Souza, nascida em São Félix no Tocantins, nasci em 1974, hoje estou com 49 anos de idade.
Eu sou quilombola de um lugar chamado Prata, que é um povoado próximo a essa cidade.
As pessoas que moram lá são todos meus parentes. Meu pai sempre trabalhou na roça: ele mexia com plantação de arroz, plantação de cana, fazia rapadura, tocava boi, tinha um engenho de madeira; a rotina do meu pai até ele morrer foi essa.
Minha mãe também sempre foi lavradora. Trabalhava numa roça bem longe de onde a gente morava, às vezes se levava um dia para chegar nesse local. A gente ia a pé e chegava a ficar até dois meses por lá.
Quando vim para Palmas, eu já fazia alguma coisa na área do artesanato, só que eu vim para trabalhar de doméstica.
Meu salário era R$150,00, mas eu ganhava R$190,00, porque morava no serviço. Eu lavava, passava, cozinhava, fazia tudo.
Dali passei para uma Casa de Apoio, onde eu levava gente no hospital, dormia com pessoas nos hospitais, lavava a roupa deles e fazia almoço para uma multidão de gente.
Lá eu trabalhava pior do que um burro de carga, só que em momento algum eu mostrei que estava incomodada com o trabalho.
Eu dizia: “Deus, eu vim para cá foi para vencer e o Senhor vai me dar oportunidade”.
Depois de cinco meses a Casa de Apoio acabou, e eu fiquei um tempo sem rumo até que, em 2000, apareceu a chance para expor meu artesanato no Palácio do Governo. Era um seminário, não me lembro do quê, mas ali teria gente de todos os municípios.
Passei a noite fazendo brincos e, quando foi no dia seguinte, vendi todas as peças.
Todas.
Depois que eu vendi aquela mercadoria, na exposição de 2000, o pessoal perguntou onde eu morava. Eu falei: “Estou morando aqui em Palmas”. Aí passei meu telefone fixo, e eles voltaram a entrar em contato uns dias depois.
Sabe, aquele seminário, naquele dia ali, foram portas e janelas que se abriram para mim, tanto que eu comecei a trabalhar, vender as peças, não só minhas, porque aí o volume aumentou e eu passei a trabalhar com mais de quarenta pessoas da região. Tinha uma van, na época, um ônibus que fazia o transporte das caixas de peça de capim dourado.
Ele vinha duas vezes na semana, e como quase tudo era encomendado, vendia fácil.
Assim eu fui ficando conhecida.
Foi o Rali do Sertão foi quem divulgou o nosso trabalho para o mundo, porque nós morávamos onde passava trânsito de cavalo e de carro; passava na porta da nossa casa, então a gente ficava sabendo dos ônibus que iam passar por ali e vendia as peças que ia armazenando.
Se aparecesse um, comprava; se não, ficava aquela peça, só que a gente não trabalhava dizendo assim, “eu vou viver disso”.
Não dava.
Aí eu sei que com esse Rali comprar as peças, elas foram expandindo para o mundo e o pessoal foi querendo conhecer o Jalapão. Interessante que quando a gente trabalhava, antes, não tinha o nome de capim dourado. Até 1998, quando eu vim para Palmas, só se falava do capim que tinha no Jalapão, porque o Jalapão era discriminado, era considerado um local de pobreza.
Se eu partir hoje, meu legado fica para algumas pessoas que tem inspiração em mim.
Elas falam que admiram o meu feito.
Ontem mesmo as mensagens que eu recebi, foi de pessoas falando assim, continue essa pessoa que você é, essa pessoa acolhedora, essa pessoa que vai atrás, consegue o que quer. E sempre eu falo: se eu faço algo de bom, ótimo, mas eu quero ser mais boa e fazer mais coisas boas...
No dia em que eu morrer, as pessoas vão ter o reconhecimento que eu deixei um legado do bom para eles.