Meu nome é Márcia Pereira de Pereira, eu sou natural da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul e a minha data de nascimento é 20 de maio de 1959.
Meus bisavôs eram portugueses, nascidos em Portugal, mas, os outros todos vieram e já ficaram por aqui, se estabeleceram em Pelotas.
Meu pai sempre trabalhou no comércio, e minha mãe era dona de casa.
Ela costurava, fazia bicos. Era assim que eles viviam. A primeira casa que eu morei era uma casa de madeira, e ficava ao lado da casa do meu avô, que tinha um armazém de secos e molhados.
Eu não saía de lá!
Então eu fui assim, seguindo uma ideia.
Na adolescência eu até tive a iniciativa de fazer coisas: fiz leque, carteirinha, colarzinho.
Na época da novela “O Clone”, eu fiz quantidades daquelas pulseiras que pegava assim no dedo. Vendi horrores daquilo, mas a gente nem pensava em fazer outra coisa que não fosse entrar para faculdade, vivia naquela função de se formar e não sei o quê. Deus me livre!
Eu me formei em arquitetura, na Universidade Federal, e fui trabalhar na área, mas, te dizer já, não foi por muito tempo. Em seguida eu consegui um emprego na prefeitura, e aí eu fui ser oficial administrativo...
Depois que minha mãe faleceu, eu acho que aquele dom, aquela coisa, assim, eu acho que veio comigo, e se juntou com o conhecimento que ela me passou do artesanato.
Minha profissão de arquiteta, ela é abrangente e tem conhecimentos com relação a estética, uso das cores.
Aí acho que eu juntei as coisas e comecei a expor meu trabalho nas feiras que havia. Certa vez, em um domingo, chegou uma moça do Sebrae lá no nosso estande e me perguntou se eu não gostaria de trabalhar num projeto que era de valorizar as coisas de Pelotas.
Fui lá ver e me convidaram para participar do projeto Bichos do Mar de Dentro, que já existia há um ano, mais ou menos, e que reproduz a fauna da Costa Doce.
O que é a Costa Doce? É o complexo de lagoas que a gente tem aqui: Lagoa Mirim, Mangueira, a Lagoa dos Patos. Então a gente elegeu esse bioma e trinta animais para reproduzir nos produtos.
Esse projeto foi um divisor de águas na minha vida.
Nós somos nove artesãos trabalhando especificamente com o projeto dos bichos.
Ninguém vive exclusivamente disso, mas uma parte importante da nossa renda vem do artesanato.
Tem coisas assim que eu acho meio chato falar, mas o artesanato é diferente do “industrianato”. Uma coisa é tu pegar um trabalho bordado a máquina, não que não tenha seu valor, tudo tem o seu valor, mas é outra coisa se tu pensar que tu pegou ali, uma almofada, um lenço, alguma coisa que teve mais gente trabalhando naquilo, que escolheram cuidadosamente a cor da linha e tal, que tu aprendeu, que tu errou, que tu cortou, que às vezes dá certo, às vezes não dá!
Como não valorizar uma coisa assim?
Eu gostava de cachorro, de gato, mas agora, depois do projeto, não. Agora eu tenho uma visão mais ampla.
Eu amo esses nossos bichos. Uma vez a gente ia para Porto Alegre e meu marido atropelou um gato do mato, eu acho, um bicho assim.
Olha guria, se tu ver, foi punk...
Eu amo esses bichos, eu conheço eles. Eu sei onde eles nasceram, onde eles vivem, como é que o quero-quero cuida do ovo, ao invés da “quera-quera”, eu sei que o ratão do mato, o ratão do banhado é monogâmico, todas essas coisas agora eu sei responder, e isso me faz amar até os mais horríveis!