Meu nome é Vanda Alves de Souza, eu nasci em 20 de julho de 1961, na cidade de Mogi das Cruzes.
Eu sempre fui de comer muito, então eu almoçava na dos vizinhos, na casa da minha avó, na casa da outra avó.
Vivia fora...
Já o convívio em casa era tenso, porque meus irmãos eram muito certinhos. Até na escola as diretoras, as professoras falavam: “Nossa, você não parece ser filha do José Alves”, “Você não parece ser irmã da Rosa”, porque eram todas excelentes alunas, bem-comportadas, e eu era meio que fora da linha.
Eu recebia muita bronca da minha irmã mais velha, que era quase que a nossa mãe, então para fugir dela eu ficava na rua.
Sempre fui a ovelha negra.
Eu terminei o curso de química e cheguei a trabalhar em empresas, mas o meu pai tinha o supermercado, e aí ele falou que era melhor eu ficar trabalhando com ele do que seguir carreira fora: “O que você ganha eu posso te pagar mais”, ele falou, “e aqui você não tem muitos gastos”. Eu então me acomodei e fiquei trabalhando com ele, mas retomei um curso de magistério.
Tudo parecia tranquilo até que eu conheci o Mário...
O Mário era um ativista ambiental aqui da região de Mogi das Cruzes. Ele era idealista, unia as pessoas: “Com quem que você tem que falar, com o ministério público”?
Aí ele ia atrás de pessoas para fazer com que leis de proteção entrassem em vigor no distrito. Ele foi jurado de morte, meus filhos eram ameaçados indo para a escola, e nem assim ele desistiu.
Foi um líder que sempre se preocupou em trazer qualidade de vida para as pessoas. Certa vez ele estava indo buscar um dos meus filhos à noite e teve um infarto no caminho. Nós já estávamos separados então, mas ele foi muito importante.
A minha vida tem antes do Mário e depois do Mário.
Depois que ele faleceu tudo veio abaixo e eu tive que recomeçar do zero.
Meu pai me deixou como herança umas casinhas de aluguel e uma inquilina, não sei se usuária de droga, ou de algum tipo de medicamento, ela pôs fogo nas casas...
Depois disso aconteceu que ficou um espaço aberto no meio das casinhas, e o meu filho viu que passava muito ciclista por ali, por ser uma rota do Caminho do Sol.
E foi então que ele teve a ideia de fazer um barracãozinho, e vender suco de cambuci e pastel. No fim a obra do barracão ficou grande e aquilo acabou virando um restaurante, que hoje é o Natural da Mata, que era bistrô, e hoje a gente chama de Fit Natural da Mata.
Meu filho e minhas filhas vieram trabalhar comigo e o projeto, como um todo, foi se tornando maior com o tempo.
Eu conheço cambuci desde criança. Eu fui criada embaixo do pé de cambuci!
Eu sempre comi, mas era como fruto, a gente punha o fruto no copo com açúcar e comia. Quando eu comecei a trabalhar na cozinha, a fazer ene coisas (ele é doce, é salgado, ele é suco, ele é tudo), eu me apaixonei pelo valor nutricional do cambuci, pela riqueza de vitamina c. Ele tem vinte vezes mais vitamina c que a laranja.
Eu nunca mais quis chupar laranja, só quero Cambuci!