O sol da alegria

Sebastião de Souza Brandão

No meio do nada

Meu nome completo é Sebastião de Souza Brandão, eu sou de 1944.

Agora em janeiro é meu o aniversário, dia 21. E a minha idade é essa... 78, já vai para 79. Agora de casado, já tem 49.

A casa da minha infância era uma casa de palha de guacuri.

As paredes dela eram aquelas grades, eles falavam casa barreado, feito de barro para fechar assim...

E ali era a casa, ali tinha uns pés de árvores grandes...

A frente era com o Rio Paraguai e pros fundos, o campo. Ali eles criavam criação de terreiro: porco, galinha, cabrito e alguma meia duzinha de vaca para tomar leite. A rocinha deles ficava do outro lado do riozinho, para o gado não ir.

Não tinha cerca, não tinha nada. Era uma região que ainda estava desbravando.

Pantanal afora

Eu fui maquinista de barco. Subia o rio Paraguai, de Cuiabá a Corumbá, passava em Cáceres também. Essa região tudo do Pantanal aí viajei bastante tempo.

Aí realizei um sonho antigo que eu tinha, que era de conhecer Mato Grosso pelo rio, pela estrada boiadeira e pelas BRs. Depois trabalhei na ferrovia também...

Então pode dizer que eu andei bem por aí e deu para conhecer um bom bocado!

Viola

Meu pai trabalhava como pião de fazenda, luta de campo, essas coisas, mas tinha também o lado do artesanato que fazia: aprendeu a fazer a canoinha, outras coisas de madeira e essa viola de cocho. Mas ele não mexia com artesanato para vender, fazia só para algum colega, irmão ou parente.

A pessoa pedia para fazer, ele ia e fazia.

Eu achava bom ver ele trabalhando, e gostava mais ainda de ouvir o povo tocar, mas os violões não consegui aprender.

O que aprendi, sim, a fazer é a viola de cocho!

Quando o meio ambiente me libera, eu vou lá no mato, corto e faço, porque não adianta trabalhar ilegal. O sujeito às vezes ganha bastante, mas está arriscado perder tudo. Eu quero ser um camarada liberado, sair de cabeça erguida. Correr só de ladrão, porque quem não é ladrão não vai me atacar. O resto para mim é uma felicidade.

Brincar... brincar... ser feliz.

Pelo mundo

Tem turista que vem de fora, passear no Pantanal e quer levar uma lembrança, aí vem aqui na oficina, compra e leva. Para mim é bom que me ajuda na aposentadoria.

Fiz a viola para um artista aí, acho que é da Globo, ele é português. Ele e aquela Paula Arósio, que é bailarina, como que a gente fala? Oh, meu Deus do céu! Mas veio aqui e comprou. Assistiu eu fazer uma do começo ao fim e levou.

E tem aí para a Argentina, no Paraguai. Só para ter uma ideia, uns dois meses antes de dar aquela trancada com o negócio dessa pandemia, eu fiz uma oficina no Ceará, naquele grupo “Maiores Artista do Mundo”, que teve. Fui lá participar, no Limoeiro do Norte. Naquela época estava completando dois mil exemplares.

É bastante viola... Não é?

Alegria, alegria

O pessoal da minha família vive muito e eu costumo dizer que o que faz a vida prolongar é a pessoa ser… primeira coisa: ser honesto com os amigos!

Depois ser alegre, brincar uma brincadeira sem ofensa e gostar da brincadeira sem ofensa também de outra pessoa.

Viver sempre despreocupado com a vida ruim dos outros, sempre com aquela parte boa, e ter o amigo que é compatível com a gente.

Eu gosto de ser alegre, eu gosto de brincar, eu gosto de me divertir e gosto de quem se diverte comigo.

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