[b] Caligrafia [/b]
Eu me lembro, quando eu falo na época da alfabetização, tinha aqueles cadernos de letra, de fazer a ortografia certinha. Ela exigia que eu fizesse a letra correta, a letra bonita, errava e apagava. Essa forma de me tratar e me enxergar como uma pessoa de fato, não como uma pessoa com deficiência, embora a deficiência estivesse ali, foi fundamental para tudo que aconteceu na minha vida dali para frente.
[i] Leonardo Reis [/i]
[b] Divertido, mas acabou[/b]
Fiquei nove anos na FAAP, cuidando do TCC, na parte de criatividade no TCC do curso de Publicidade e Propaganda. E putz, fiz vários amigos ali, hoje ainda tem uma molecada que me chama de mestre. Eles é que são meus mestres.
Quem já fez isso sabe e não quer sair mais disso, só que acaba, tudo acaba. Mas é muito legal, foi onde eu me descobri mesmo. “Cara, acho que é isso aqui que eu vim fazer no mundo.” Foi muito divertido, mas esse ciclo também acabou.
[i]– O que você diria para as pessoas que passaram pela mesma situação que você, que precisam se recolocar no mercado de trabalho após os 50 anos? [/i]
Eu falo muito por mim, cada um tem um jeito de enxergar, mas a primeira coisa que a gente tem que fazer é abandonar o passado, literalmente. A única coisa que eu não troquei foi de time de futebol e de esposa, mas o resto, esquece o que você fez, esquece o que você foi: guarda.
E outra, se colocar na posição de aprendiz. Acho que esse é o grande barato, que as pessoas resistem. “Eu não posso voltar a ser aprendiz”. Não, você tem que voltar a ser aprendiz, para tudo. Eu não sei metade do que essa molecada sabe fazer com a tecnologia, e eu tenho que aprender. E terceiro, aí é uma característica minha, eu sei que não são todos os velhinhos que têm isso, mas eu me divirto, de verdade. Eu rio demais com as minhas bobagens, eu me divirto com o que eu não sei, não tenho vergonha de falar que não sei.
[i] Paulo Ferrari [/i]
[b] Café com prosa [/b]
No primeiro Café com Prosa estávamos 17 mulheres.
No nosso segundo café o negócio já tinha mais que triplicado, porque muitas levaram mais de três mulheres, e a varanda ficou tomada.
Marcamos o terceiro café. Quando acabou, não tinha mais espaço na varanda, juntou a galera um pouco mais para a sala. Nós sentávamos e algumas mulheres ali eram escolhidas para contar um pouco da sua história de vida, sua trajetória, de como começaram a empreender, ou por que não tinham começado ainda, mas tinham um desejo.
Isso tudo que eu estou contando aconteceu em 2014, antes do rompimento da barragem.
Quando houve o rompimento da barragem a mulherada já sabia da gente, já queria entender por que tinha mulheres de negócios, empreendedoras, lá, e queriam se conectar.
Até então o nosso grupo, no primeiro, segundo e terceiro café, se chamava Mulheres que Inspiram, porque as nossas histórias estavam ali com o propósito de fortalecer e inspirar umas às outras.
Quando houve o rompimento da barragem mudei o nome para Marianas Mulheres que Inspiram, para a gente trazer essa ideia de fato, a identidade das mulheres de Mariana, então nós éramos naquele momento mais uma Mariana sobrevivente de tudo aquilo que a gente passou. Veio um caos. Nossos maridos, namorados, desempregados, sem falar de várias outras mulheres que estavam na área também desempregadas. Mais de três mil desempregos em uma semana, a cidade com mais de três mil pessoas sem perspectiva nenhuma de retorno.
Começamos com 17, hoje somos mais de 1.600 mulheres envolvidas nessa rede.
Viramos a primeira aceleradora de negócios diversos do estado de Minas, porque é muita mulher e muito segmento.
[i] Marciele Delduque [/i]