[b] O pajé e o médico [/b]
Alguém pode ser um pajé, uma pessoa que cura e tem conhecimentos, aí pagam quinhentos reais. Vem um médico; porque ele estudou sete anos, tem que pagar quinze mil. Não sei, para mim isso é bem questionável, bem desproporcional, porque o mundo não é isso. O mundo é diverso, amplo. Essa pessoa tem um acúmulo de gerações, de anos a dedicar-se a isso, também tem que ser valorizado.
[i] Jobana Aramayo [/i]
[b] Tecnologias não são neutras [/b]
[i]– Você, pessoalmente, já passou por algum tipo de preconceito no mercado de trabalho, por ser mulher, por ser parda? Pode até ser algo velado, mas poderia ter ido adiante e não conseguiu por conta disso? [/i]
Eu acho que tem duas questões aí. Uma delas é estrutural, que no meu caso me impediu de acessar esses espaços por algum tempo, mas não por tanto tempo.
Por exemplo, a questão de origem: meus pais não estudaram, eu não estudei em inglês quando era criança, não tive computador desde cedo, isso tudo restringe o acesso. Você não precisa ser fluente em inglês, não precisa saber inglês para programar, mas é um conhecimento que no mercado de trabalho é exigido, então isso é com certeza um diferencial.
Eventualmente, eu percebo que as pessoas não aceitam limites quando vêm de uma mulher. Quando um cara diz as mesmas coisas, as pessoas entendem, por exemplo: “Não dá para programar isso!” Se é um cara que fala, “Ah, tudo bem!” Se é uma mulher que fala, “Sério? Mas por quê? Então me explica!” Você tem que dar uma aula para a pessoa, porque ela não acredita em você, necessariamente.
As tecnologias não são neutras, elas carregam em si as marcas da ideologia de quem as produz, então se a gente não tem uma diversidade no mercado de trabalho de tecnologia, logo a gente está aceitando que as soluções que são para um grande grupo sejam tomadas por um grupo muito pequeno.
Se a gente considerar que a maior parte de quem trabalha com tecnologia é de homens brancos do Norte global, a gente está considerando que a maior parte da população não constrói essa tecnologia. Uma diversidade de vieses não são considerados, então essas tecnologias também carregam violências e também carregam falta de ideias.
E também concentra muito poder, porque a tecnologia movimenta muito grana, mas não só isso, concentra muito poder de transformação mesmo, de qual cultura vai ser implementada, que hábito vai ser desenvolvido, que violências podem ser perpetuadas a partir disso.
A diversidade é importante porque ela democratiza tanto a tomada de decisão quanto o poder, nesse sentido de decidir o futuro, decidir o que as pessoas vão fazer. E também porque existe a pessoa que faz e a pessoa que consome.
Eu acho que o que não for diverso está fadado ao fracasso. Acho que a gente está com uma tendência a diversificar as pessoas que pensam e que produzem, é uma necessidade nossa, mesmo.
[i] Ariane Souza Campos [/i]