Entre 2022 e 2023, o projeto teve como foco dois patrimônios culturais imateriais reconhecidos em territórios indígenas do Rio Negro (AM): o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro e a Cachoeira das Onças, em Iauaretê.
Executado pelo Museu da Pessoa em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e outras associações indígenas locais, o projeto contou com três etapas realizadas paralelamente na região do Médio Rio Negro, no município de Santa Isabel do Rio Negro, e em Iauaretê, na Terra Indígena Alto Rio Negro.
As etapas foram centradas em um processo de trocas conduzido pelo Museu da Pessoa com a participação direta de 30 indígenas, majoritariamente jovens, e com o envolvimento de diversas comunidades e lideranças dos dois territórios. Foram trabalhados nessa etapa a Tecnologia Social da Memória (TSM), as ferramentas e as linguagens do campo audiovisual e alguns dos elementos da comunicação. Este último tópico foi desenvolvido em uma oficia ministrada em parceria com a Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas do Rio Negro.
Foram os próprios indígenas participantes do processo de trocas que realizaram e registraram as entrevistas de histórias de vida com pessoas de suas comunidades — em geral, com parentes como avôs e avós, pais e mães, tios e tias. A indicação dos entrevistados foi feita pelo grupo, tendo como ponto de partida a escolha de pessoas reconhecidas por seus saberes sobre o Sistema Agrícola Tradicional e a Cachoeira das Onças.
Alguns dos critérios definidos pelos grupos na escolha dos entrevistados foram a priorização de:
Todas as demais etapas do processamento das entrevistas também foram realizadas pelos participantes locais: a decupagem, a escolha das “flores das histórias”, a edição, a tradução e a legendagem para o português.
Ao todo foram entrevistadas 27 pessoas no Médio Rio Negro e 36 em Iauaretê. Desse total de entrevistas, 61 já estão disponíveis na plataforma.
Como apresentado na seção Produtos desta exposição, além das histórias de vida, os participantes também desenvolveram produções culturais. Os formatos dos desdobramentos foram definidos de forma coletiva nos territórios ao longo da construção do “diagrama do sentido”, ferramenta da TSM que auxiliou à reflexão dos grupos a respeito das dimensões de sentido dos patrimônios e seus contextos socioculturais. A dinâmica também contribuiu para o mapeamento dos temas, das questões e dos desafios do registro e da salvaguarda das memórias relacionadas aos patrimônios.
Ao final do projeto foram realizados, em cada território, dois grandes eventos para a socialização dos resultados e dos produtos. Cada evento contou com a presença de cerca de 100 pessoas, dentre os entrevistados e seus parentes, moradores das comunidades locais, lideranças e representantes de orgãos públicos.
Nas ocasiões, os próprios territórios foram sede da exibição dos documentários, do lançamento do livro e da certificação dos jovens participantes. No mesmo evento, foram feitas visitas às florestas de histórias!
“Esse projeto está sendo muito bom para nós jovens. Estamos tendo a oportunidade de conhecer as histórias da maioria dos conhecedores aqui de Iauaretê e ainda aprendemos a fazer vídeos.”
Josiane Pereira, do povo Tariano
“Foi muito valiosa a oportunidade que tivemos de ouvir a história dos conhecedores aqui de Iauaretê. Esse projeto trouxe abertura para várias coisas que a gente apenas sonhava.”
Lucas Matos, do povo Tariano
“Posso dizer que esse projeto com o Museu mudou a minha história, fez eu ter uma visão mais profunda das coisas, da vida. Por isso, eu preciso e quero continuar com esse trabalho.”
Juscelino Gregório, do povo Baniwa
“Um projeto que vai nos ajudar a expandir, para que outras pessoas conheçam nossa cultura, nossos costumes, nossas histórias, dos nossos pais, nossos ancestrais e pra mim isso é muito gratificante, porque a gente é reconhecido em outros lugares.”
Shayra Rodrigues, do povo Baré
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O projeto “Patrimônios do Rio Negro” foi executado pelo Museu da Pessoa em parceria com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e por meio de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístco Nacional (Iphan). A iniciativa foi viabilizada pela Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal, com patrocínio do Instituto Cultural Vale.