Transmutações

Talita de Lira

Minha mãe foi agredida em casa quando eu tinha cinco anos. Eu gritei, assustada. Ela saiu correndo e eu fui atrás, mas a rua era longa, eu não consegui alcançá-la. Naquela hora uma vizinha minha me levou para a casa dela e me colocou debaixo de uma mesa de costura. Ela disse para eu ficar ali, quietinha.

Às vezes, eu penso sobre isso.

Essa corrida atrás da minha mãe é o que eu faço até hoje: eu continuo correndo atrás dessas mulheres que têm narrativas pesadas, angustiantes.


Em casa teve brechó, e eu mesma trabalhei com isso por um tempo. Depois trabalhei em empresa de tecido, em confecção, em biblioteca; até numa farmácia na época de pagar a faculdade.

Na época de fazer o TCC, na pós, eu estava de saco cheio. Não queria pesquisar, escrever e fazer mais uma monografia para guardar na gaveta. Entrei no Instagram e encontrei o Treino na Laje, que é da Sophia Bisilliat, ela leva yoga pra mulheres da periferia. “Eu tenho um projeto de consultoria de moda para fazer com suas meninas” eu disse. Eu não tinha dinheiro, não tinha nada, só tinha eu, mas de alguma forma isso virou o projeto Transmutações.

Cada pessoa tem um estilo, uma narrativa. Somos indivíduos. Então o sentido do coletivo Transmutações é mais de captar isso, entender, dar a mão e andar junto. Elas é que me conduzem. Eu entro com técnica, com auxílio, mas são elas que fazem tudo acontecer. É um caminho de autoconhecimento; complexo, mas compensador. O que a gente tem de retorno é uma espécie de cura.

Galeria de mídias

Levar consultoria de moda para as mulheres da periferia foi a iniciativa mais compensadora da vida de Talita de Lira (São Paulo, 28 de junho de 1989). Criadora do projeto “Transmutações”, ela proporciona vivências de protagonismo e autodescoberta para pessoas que nunca teriam uma experiência assim.