Meu nome é Mareilde Freire de Almeida, nasci no dia 20 de novembro de 1961, em Freire Cardoso, Minas Gerais.
Eu vim do Vale do Jequitinhonha, uma região castigada pela seca.
Era um local afastado e sem recursos, tanto que a gente fez uma migração para o Paraná. Eu teria por volta de seis anos na época. Essa vontade de buscar a mudança era uma coisa que vinha da minha mãe...
Ela ouviu que o Paraná produzia hortelã e a gente foi para lá. Ficamos dois anos, mas as coisas não fluíram e aí ela decidiu migrar de novo.
A gente entrou no ônibus para Ouro Preto do Oeste com umas malas quadradinhas bem duras, ainda lembro, só aquilo e mais nada. Isso aconteceu em 1971, momento de não ter telefonia em Rondônia, só telégrafo; nada de energia, água.
Há pouco tempo, inclusive, eu dei um mergulho no passado e visitei minha cidade natal.
Aconteceram algumas mudanças, mas muito pouco. Minha mãe foi bastante assertiva em fazer aquela migração, sair em busca de novas oportunidades.
Tive que concluir a graduação numa faculdade particular e essa fase foi difícil.
Lembro de me sentar cansada na cadeira depois de trabalhar o dia inteiro, e a pessoa do lado me dizer: “Você não acha que já está na hora de trocar sua calça, sua bolsa?”.
Você ouvir aquilo e engolir calada.
Outro fato marcante foi no final do curso, quando uma colega que estava fazendo o levantamento para a festa de formatura disse que cada um deveria apresentar um cheque no valor de R$250,00, e aquilo estava acima das minhas possibilidades. Não tinha nem R$50,00, quanto mais R$250,00.
Quando eu falei que não possuía o dinheiro, ela disse: “O que você está fazendo aqui se você não tem um cheque de R$250,00?”.
Depois de fazer um tratamento para um problema na pele, eu comecei a pesquisar a respeito de hidratação, e a ler também alguns trabalhos da Embrapa.
Aí eu descobri, por exemplo, que o óleo de buriti tem uma concentração de betacaroteno que não é encontrada em nenhuma outra planta. O betacaroteno traz para os cosméticos uma ação antioxidante que faz toda a diferença; ele traz vida, renovação. E aí vieram outras descobertas: o óleo de copaíba é considerado o bálsamo da Amazônia, a andiroba é um repelente natural.
Em cada matéria prima podia-se encontrar novas propriedades, e assim eu, minha filha e minhas irmãs encaramos o desafio e começamos a fabricar produtos cosméticos observando dois critérios: ter respeito com o meio-ambiente e ter mulheres na cadeia de produção.
Hoje nós trabalhamos de forma direta com trinta famílias na Saboaria Rondônia, mas de forma indireta são mais, porque ela está se expandindo para outras comunidades na quais a gente trabalha com a produção do café, outros trabalham com a produção de outros olhos, então indiretamente esse número ultrapassa sessenta famílias.
A vida pacata da zona rural tem o lado bom, mas acaba sendo uma rotina.
Tudo que vira aquele dia após dia traz algum grau de insatisfação, então trazer a Saboaria para comunidade rural foi uma vitória. Ela é a primeira indústria de cosméticos do estado de Rondônia, que, além de idealizada, é gerenciada por mulheres rurais.
Isso faz dela uma referência para que outras mulheres possam pensar assim: se elas fizeram, nós também faremos.