Me chamo Ney Ralison Silva de Oliveira, nasci em 26 de setembro de 1985, na cidade de Tucuruí.
Meu pai primeiro queria comprar umas terras em Araguaína, que na época fazia parte de Goiás, mas quando ele chegou lá soube que o Governo estava doando terras no Pará, e aí não contou duas vezes.
Voltou no Ceará, vendeu a terra e convidou os vizinhos (a minha família materna), juntaram tudo no caminhão e vieram.
Ficaram primeiro no acampamento do Incra, na cidade de Marabá e logo em seguida foram assentados em alguns lotes no Município de Itupiranga. Depois, quando foi fazer o enchimento do lago da Hidrelétrica do Tucuruí, eles receberam outros lotes, com a promessa do Governo que ia dar os títulos quitados, que iam dar casa, poço, energia elétrica...
O que, na verdade, ficou mais na promessa.
Eu queria ser veterinário quando era mais moço, mas a opção mais próxima de curso técnico era zootecnia.
Eu fiz esse curso, só que aí, no meio do caminho, a escola Agrotécnica Federal de Castanhal falou: “A gente não vai mais ofertar zootecnia, só vai ter agropecuária e técnico agrícola com habilitação em agroindústria". Eu falei: “Ah, beleza, vou para essa Agroindústria”.
No primeiro momento eu não gostei muito, mas quando veio a parte de laboratório eu falei: “Não, é aqui!”. Microbiologia, bromatologia, física, química, eu me identifiquei.
A ideia era fazer a graduação em seguida, mas aí, em 2007, comecei a trabalhar na Coopercal, uma cooperativa de produtores que trabalha com cacau.
O cacau tolera o sol, mas quando você tem uma outra árvore que o sombreia diminui o ataque de insetos na planta, e isso faz com o produtor vai tire algum lucro com ela.
E aí quando você faz isso, essas árvores vão ficando, porque a regeneração natural na região é forte.
São árvores que vão oferecer frutos para biodiversidade de animais da região, e ainda fazer o papel de sequestro de carbono, reciclagem de nutrientes. No modelo agroflorestal com sombreamento você vai diminuir a aplicação de defensivos, o que diminui o desembolso do produtor, sem falar que é mais amigável para pessoa que vai conduzir a lavoura e para o consumidor final.
Isso dá resultado.
Os nossos produtores hoje conquistaram as maiores premiações de qualidade de cacau. O senhor João Evangelista, cooperado nosso, está entre os cinquenta melhores do mundo.
Quando a gente começou a atuar, tinha um produtor aqui que atuava com o modelo de pecuária leiteira. E ele acabou, digamos, contraindo dívidas e não conseguiu implantar o sistema para a melhoria da produção.
Com o passar dos anos ele começou a pôr em prática algumas das nossas ideias e percebeu que quando cultivava essas culturas de ciclo curto e colocava alguma cultura permanente na área, ele conseguia gerar mais renda do que quando estava cuidando de uma grande área com pecuária. Hoje ele toca, acho que menos de 10 hectares em torno da casa com lavouras. Ele implantou no primeiro ano macaxeira, abacaxi, batata doce, feijão, cana...
Nos últimos dois anos, os filhos e as noras voltaram para a propriedade, e hoje todos da família sobrevivem dessa renda da atividade.
Hoje, como produtor e cooperado, eu quero ver a cooperativa crescer.
Para você ter ideia, Repartimento já teve mais de cinquenta cooperativas, mais de duzentas associações, e hoje só tem uma cooperativa que reúne 28 cooperados.
A gente tem cinco mil famílias de agricultores familiares, e não contempla 1% desses agricultores, porque eles tiveram experiências negativas com outras cooperativas e associações. Eles têm dúvidas, têm muito medo de entrar, e eu vejo que um dos desafios meus como extensionista é persistir para que o modelo de cooperativismo na região se torne atrativo.
Esse é o legado que eu gostaria de deixar para os meus filhos.