
1997
A história que vou contar é um pouco da minha vida e do que ouvi durante o meu próprio
percurso.
No dia 26 de julho de 1997, às 06h00, Josirlene Maria do Nascimento Silva deu entrada no
antigo Hospital do Açúcar (hoje Hospital Veredas). Ela dizia ao médico:
— Doutor, a menina vai nascer!
Colocaram-na sala de parto, mas ela insistia que a criança já estava chegando. Não deu tempo
nem de o médico colocar as duas luvas. Com apenas uma mão protegida, ele segurou a bebê
pela cabeça — por pouco ela não caiu no chão.
Às 06h45, nasceu Aurelina Maria do Nascimento Silva, hoje conhecida como Lina
Vasconcellos.
Os avós chegaram apressados, pegaram a menina — e, na correria, quase esqueceram a mãe.
Depois voltaram para buscá-la.
Ao chegar à casa dos avós maternos, na Rua Senador Bernardo de Mendonça, nº 164,
Bebedouro (Cardoso), o avô correu para comprar algo para fazer farrinha de neném, porque a
menina chorava muito de fome.
Passei meu primeiro mês de vida na casa dos meus avós maternos, Aurelina Maria do
Nascimento e Josival Pedro do Nascimento, cercada de cuidados.
Agora é Lina quem fala
A partir daqui, vou contar as coisas que ouvi ao longo da vida, desde 1997 até hoje 2025.
Meu avô Josival sempre contava que o avô dele o trazia de São Luís do Quitunde para
Bebedouro, carregando-o nas costas, a pé. Ao chegar, parava para beber água no riacho antes de
seguir para o terreno onde, mais tarde, construiria sua casa.
Claro! Aqui está o seu texto corrigido, com ortografia, concordância e fluidez ajustadas,
mantendo totalmente seu jeito de contar:
Ele dizia que, naquele tempo, o caminho era cheio de pés de bananeira e muita mata. Era outro
cenário, outra época — e eu cresci escutando as histórias dele e de outros familiares.
Lembro que minha avó contava como era a praça de Bebedouro antigamente e como construiu
sua casa no Cardoso. Ela comprou o terreno do meu bisavô e começou a construir a casa aos
poucos. Uma casa que sempre foi palco de festas — Natal, Carnaval, São João e Ano Novo. A
casa nº 164 vivia cheia; até os vizinhos iam para lá.
Eu tinha também um tio pescador. O terreno da minha avó foi dividido, e uma parte ficou para a
irmã dela, que fez a casinha dela — a Tia Neta, casada com o Tio Niva (o tio pescador). Como
todo mundo diz, pescador gosta de contar histórias — e ele amava. Reunia os netos, sobrinhas e
sobrinhos e contava muitas histórias. Ele realmente pescava na lagoa Mundaú e dizia até que
pescava peixe com as mãos. Mas uma frase dele nunca saiu da minha memória:
— Bebedouro não vai existir mais.
E então, gente, a minha família tem muita história. Teve até time daqui de Bebedouro: o
Cruzeiro Esporte Clube Alagoano.
Meu tio Manoel, no Bar do Silva, na Rua Manoel Sampaio, perto da sede do Cruzeiro, bebendo
com Muica e outros amigos, em uma conversa aleatória, falou:
— Vamos criar o Bloco da Raposa.
Assim nasceu o Bloco da Raposa, o maior bloco que já existiu em Bebedouro.
Quem não lembra da música?
“O mar azul vai invadir Bebedouro,
eu sou da Raposa e tenho bom gosto...”
Até hoje o bloco sai em Jaraguá, com um único presidente, o Manoel Nascimento, pois os
outros dois fundadores já faleceram. Fica aqui registrada esta homenagem a eles.
Como todos sabem, tudo que era festa de Bebedouro acontecia na praça, então o bloco passava
por lá também.
Quem não se lembra da quadrilha?
Aquele grito da Junina Pé de Serra, ativa desde 1984 — mais velha que eu! Eu sempre ia ver a
quadrilha no São João; achava um máximo. Sem falar no Coco de Roda Estrela e no Reviver.
Todo mundo se dividia na hora do mole mole. Fazia parte da nossa tradição ver cada
apresentação na praça.
E tinha ainda a missa de Aleluia, que até quem não era católico esperava para ver se ia “achar a
aleluia”. Kkkkk.
Mas será que tudo isso já não era parte da história?
Porque, cá para nós: o primeiro morador de Bebedouro veio de Portugal e trouxe com ele a
cultura portuguesa. Trouxe também as pedras e molduras para construir a igreja — foi o Senhor
Nunes.
Outro morador antigo de Bebedouro foi Bonifácio, que veio do interior de Pernambuco. Ele
trouxe sua cultura e promovia festas na praça, festas que dizem ter sido as melhores da época.
Isso eu ouvi falar e também pesquisei sobre.
Ou seja: faz parte da história desse povo ser festeiro. Esse chão já nasceu preparado para a festa.
Lembro quando minha mãe falava sobre as festas que ela ia no Aquário — era tipo uma
baladinha onde todos iam se divertir. Tinha também um coreto na praça; ela dizia que alguém
levava o som e o pessoal ficava dançando e se divertindo ali mesmo.
Também tinha o mercado de Bebedouro. Era de lei: todo sábado tinha feira, e todo mundo se
conhecia. Parecia feira de interior, rsrs. Perto dali tinha o rapaz que vendia o jogo do bicho, e do
lado do mercado havia uma padaria, tudo por trás da igreja.
Uma das coisas que acho muito louca é que, como ainda moro aqui em Bebedouro, quando
passo por lugares que foram destruídos, eu lembro exatamente onde ficava cada cantinho.
As escolas também marcaram gerações: Alberto Torres, Bom Conselho, Rosalvo Ribeiro, todas
estaduais. Cada uma delas recebeu muitas gerações de estudantes. A mais famosa é o Bom
Conselho, que antigamente foi um orfanato onde as freiras cuidavam de meninas (essa história
eu conto depois com mais detalhes).
Hoje, apenas o Bom Conselho é tombado e permanece no lugar; as outras foram realocadas.
Lembro que, com meus amigos, às vezes a gente ia para a rua do cemitério e ficava sentado na
ladeira, conversando sobre a vida. No tempo dos meus pais, acontecia a mesma coisa.
E tinha claro, as fofocas que dizia : “O povo se beija atrás da igreja, ou até mesmo perto do
Abrigo da Velha, e às vezes na rua do cemitério”, kkkkk.
E como não se lembrar do parque? Da tia que vendia batatinha com gosto de infância ao lado do
Alberto Torres? E da tia do sorvete no meio da praça?
Como é bom lembrar que tudo o que temos na vida são memórias que construímos através das
histórias que nos foram contadas ou que vivemos.
Hoje eu fiz um resumo do meu lugar — o lugar que comecei a conhecer desde 1997.
Quase eu esqueci que meu avô foi 12 vezes o maior árbitro de futebol de alagoas e
morando no Cardoso em Bebedouro ... Muita historia, mas resumi.