Doido Varrido…
Paulo Marcelo Laranjeira Barrocas
2o Círculo de Diálogo Temático de Pesquisa em Saúde
Saúde Mental, Atenção e Práticas de Cuidados
12h30, 25/9/2024
Todas as manhãs,
faz algum tempo,
dirijo-me ao trabalho
transito por ruas
avenidas, vielas,
becos e chego,
bem em frente
à uma quadra poliesportiva,
estaciono e,
ao descer
noto um homem,
muito bem vestido,
camisa de mangas compridas
pano passado,
nos pulsos, abotoadas,
calças sociais pretas
bem engomadas
pernas vincadas,
cinto de couro, afivelado,
sapatos pretos, sociais.
Nas mãos,
uma vassoura
com cabo alongado,
percorre ele,
todo aquele espaço,
varrendo sob o sol
que, lenta e vagarosamente
acresce à temperatura
um grau após outro,
finda a tarefa,
caminhava até sua casa,
um quartinho
de quinze metros quadrados
tomava banho,
vestia uma camiseta
de malha de algodão
esgarçada,
estampa descolorida,
calças folgadas
de resistente brim
azul escuro
pelo tempo esmaecido,
desbotado,
meião preto
botina preta
de tintas variadas
respingadas,
de casa saia
dois quarteirões andava e,
numa construção,
entrava,
seu ofício executava…
Era pintor de paredes
e, sempre que interpelado
sobre o motivo
da roupa social
para varrer a quadra,
responde:
é assim que
reorganizo-me,
meus pensamentos
e minhas verdades,
resisto
em minhas crises
estanco e supero meus surtos
cuido da minha saúde mental
Com ele,
identifico-me,
reconheço-me,
ele,
varre
eu,
entrelaço palavras,
resistimos em nossas crises
superamos depressões
nervosismos, tensões,
vivemos a cada dia
nossas realidades,
as nossas saúdes mentais
a minha, a tua,
as nossas
(in)sanidades…