Conteúdos:
Levou arte para o povo,
Trouxe o povo para a arte.
Juntando vários saberes,
Buscando-os em toda parte,
Pois o fazer coletivo
Foi seu maior estandarte.
Falar de Idibal Pivetta
Requer bom senso e coragem.
Homem de muitas facetas
E de uma imensa bagagem,
Marcou a história das gentes
Como autor e personagem.
Nascido em Jundiaí,
Cidade do interior,
Foi garoto estudioso,
Curioso e bom leitor.
Destacou-se na escola
Como excelente escritor.
Com grande visão de mundo,
Desde a sua adolescência,
Seu gosto pela leitura
Enriqueceu sua essência,
Pois viu na força do verbo
A expansão da consciência.
Formou-se em Advocacia,
Por desejo e vocação.
Cursou também Jornalismo,
Escolheu por opção,
Mas foi a Arte, o Teatro
Que o segurou com razão!
Estudou Artes na USP,
O que guiou seu fazer.
Escreveu textos marcantes,
Imprimindo seu saber,
E o fez com maestria,
Pois tinha muito a dizer.
Foi pioneiro em processos
De criar no coletivo,
Fez parte da fundação
De um grupo propositivo:
O Teatro Popular
“União e Olho Vivo”.
Militante no Direito,
Teve grande trajetória.
Conheceu de perto o mal
Que amordaçou nossa história.
Defendeu injustiçados
Que hoje estão na Memória.
Defensor de perseguidos
No Regime Militar,
Foi também preso e punido
Por grande luta travar
Contra a injustiça e os desmandos
De um momento singular.
Preso mais de cinco vezes,
Foi torturado também…
Apenas por ser quem era,
Pois não fez mal a ninguém.
Muitas vezes trabalhou
Sem ganhar nenhum vintém.
Num tempo de repressão,
Fase de grave fissura,
Seus textos eram cortados,
Passavam pela censura.
Com isso, ele vira dois:
Criador e criatura.
Idibal Matto Pivetta,
A rubrica verdadeira.
Descreveu muitos cenários,
Da cultura brasileira,
Mas pra manter-se na luta,
Criou o Cesar Vieira.
Artista por excelência,
Com olhar criterioso,
Uniu talentos diversos
Em um tempo perigoso,
“Olho Vivo e pé ligeiro”,
Um grupo audacioso.
Nunca lhe faltou coragem,
Muito menos, sensatez.
Se lhe cortassem as asas,
Recomeçava outra vez…
Devemos muito ao Pivetta
Por tudo que ele fez.
Acreditava na arte
Como uma ação democrática.
Pensando o racional,
Inferindo uma temática,
Colocou o povo em cena
De maneira pragmática.
Imprescindível pra história,
Visão ampla pra enxergar,
Traduziu realidades
Com o seu dom de criar,
Disseminando culturas,
Focando na popular.
Atuou no grande palco
Da história nacional:
Do “Zebedeu” ao “Rei Momo”
Junto a um grupo genial,
Integrou diversas vozes
De um contexto social.
Com seu saber literário
E o seu viés criativo,
Ator de um palco refém
De um sistema punitivo,
Honrou a pedagogia
De um teatro educativo.
Recebeu diversos prêmios
Nessa cena Cultural.
Dentre estes, enfatizo,
Referente ao Idibal:
“Melhor Teatro Amador”;
“Melhor Autor Nacional”.
Levou arte para o povo,
Trouxe o povo para a arte.
Juntando vários saberes,
Buscando-os em toda parte,
Pois o fazer coletivo
Foi seu maior estandarte.
Do centro à periferia,
Das celas aos grandes centros,
Do estudante ao operário,
Dos brandos aos violentos,
Vivenciou tempestades,
Ventos mórbidos. Sangrentos…
Na busca pelo direito
De viver com liberdade,
Norteou muitas ações,
Proclamando a igualdade.
Apurou violações,
Trazendo à tona a verdade.
Defendeu sindicalistas,
De um governante hostil,
Movimentos populares,
Inclusive estudantil.
Foi membro de fortes grupos
Por esse imenso Brasil.
O tempo é sempre restrito,
Suas marcas permanecem,
Resistindo à opressão,
Têm grupos que se engrandecem,
Afinal, onde há justiça
Os direitos prevalecem.
Sua importante jornada
Gerou trabalhos diversos,
Da tese de doutorado
Até os mais simples versos.
Deu origem a este cordel
E a tantos outros impressos.
Foi tema na academia
Dividiu opiniões,
Seus influentes relatos
Trouxeram mais discussões
Sobre a história brasileira
E suas revoluções.
Sua arma principal
Foi sempre o discernimento.
Com seu discurso plural,
Conforme depoimento,
Desejou que a gente queira
Semear conhecimento.
Sob gritos de ameaças,
Seu grupo não se calou.
Houve luta, houve entrega
Idibal enfatizou.
Na Comissão da Verdade,
Verbalmente registrou.
Com a arte da palavra
Fez samba, fez poesia,
Contou o tempo e a história,
Confabulou sincronia.
Fez aflorar muitos sonhos
Por nova Democracia.
Arte a serviço da ética,
Da liberdade e da vida.
Direitos subjugados,
Resistência proibida.
Compôs de atos às cenas
Dessa nação oprimida.
Mas não foi só de labuta
Que viveu o Idibal.
Na infância e juventude
Fez travessuras e tal…
Se divertiu, namorou
Foi um sujeito normal.
Foi esposo, pai, irmão,
Amigo e advogado.
Bom sujeito, sonhador,
Influente e articulado.
Sobreviveu à tortura,
Construiu duplo legado.
Gostava de futebol,
Pelo São Paulo torceu,
Mas isso, enquanto menino,
Pois depois ele cresceu
E conheceu o Timão,
O seu peito estremeceu.
Seu amor pelo Corinthians
Deu vida a muitos papéis.
No campo da esperança,
Mosqueteiros, menestréis
Representavam, com garra,
Protagonistas fiéis.
Viveu noventa e dois anos
De modo bem consciente.
Partiu no ano passado¹,
Mas viverá, certamente,
Em seus feitos, suas obras,
Idibal Cesar, presente!!
Um cordel é muito pouco
Pra falar dessa figura,
Que viveu intensamente,
Aquela vil conjuntura,
Unindo forças na Arte,
No Direito e na Cultura.
Ficha Técnica
Autoria: Maria Celma
Curadoria: Museu da Pessoa
Xilogravura: Lucélia Borges
Diagramação: Claudia Letícia de Souza Pinto
Impressão: Gráfica e Editora Cinelândia
Revisão e Consultoria: Marco Haurélio
Maria Celma nasceu em Serra Grande, sertão da Paraíba, décima segunda filha do casal José Job e Dona Hermínia. Radicada em São Bernardo do Campo (SP) desde a década de 1990, atualmente é professora da Rede Estadual. Graduou-se em Letras ePedagogia e estudou Saúde Mental. Amante da literatura, escreve a divulga o cordel em eventos e salas de leitura. Participou de obras coletivas e publicou, em cordel, o folheto A grande roda de vidas.
Também é autora de uma versão de O mágico de Oz, de L. FrankBaum, a sair pela editora Nova Alexandria. Consciente de suas raízes sertanejas e de sua ascendência indígena, nutrida pelas memórias afetivas, leva consigo a imagem de uma infância rodeada de brincadeiras no terreiro, conversas nas calçadas, novenas, versos e cantorias, além das histórias de trancoso narradas por seu pai.
Lucélia Borges Nasceu em Bom Jesus da Lapa, sertão baiano, em 1981, e viveu muitos anos em Serra do Ramalho, região do MédioSão Francisco, em companhia da bisavó Maria Magalhães Borges(1926-2004), uma grande mestra da cultura popular. Em 2006, mudou-se para São Paulo, onde reside até hoje, atuando como produtora cultural, xilogravadora e contadora de histórias. Dedica-se ainda à pesquisa das manifestações tradicionais do interior baiano, com destaque para as cavalhadas dramáticas de Serra doRamalho e de Bom Jesus da Lapa, tema da dissertação de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP).
Ilustrou vários folhetos de cordel e os livros A Jornada Heroica de Maria, de Marco Haurélio (Melhoramentos), Ithale: fábulas de Moçambique, do professor e escritor moçambicano Artinésio Widnesse (Editorade Cultura), Moby Dick em cordel, de Stélio Torquato (NovaAlexandria), além de Contos encantados do Brasil (Aletria), deMarco Haurélio, O Sonho de Lampião (Principis), de PenélopeMartins e Marco Haurélio, e Muntara, a Guerreira (Abacate), de Penélope Martins e Tiago de Melo Andrade.
Realização
Idibal Matto Pivetta (1931-2023) nasceu em Jundiaí (SP). Graduado em Jornalismo e Direito, foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), dividindo a luta em prol do movimento estudantil com a dramaturgia, sendo um dos fundadores do grupo Teatro União e Olho Vivo. Perseguido pela censura do regime militar, passou a assinar suas peças como César Vieira. Preso por duas vezes (1965 e 1973) e depois absolvido pelo Tribunal da Justiça Militar, seguiu como advogado, defendendo presos políticos. Foi membro efetivo da Comissão da Verdade da OAB SP entre 2013 e 2015.