Aninha Ferraz: Um cordel para quem cuida do cordel

Conteúdos:
Ana Cely Ferraz Santos,
A nossa Aninha Ferraz,
Tem história tão bonita
Que nem o tempo desfaz;
Eis a força sertaneja
De tudo que Ana traz.

Ana Cely Ferraz Santos,
A nossa Aninha Ferraz,
Tem história tão bonita
Que nem o tempo desfaz;
Eis a força sertaneja
De tudo que Ana traz.
Anos idos, tempo atrás,
Na cidade de Floresta,
No sertão de Pernambuco,
Comunidade modesta,
Ano de setenta e um
Nascia a dona da festa.
Família simples e honesta:
Sua mãe foi professora
De uma escola primária,
Da classe trabalhadora.
O gosto pelo cordel
Lhe tornou ávida leitora.
Eis a força inspiradora
Do pai na lida com gado:
Com bode e com criação,
Foi no ramo sustentado
E pelas pegas de boi
Foi corredor empenhado.
Cada vaqueiro encourado
Relembra o tempo em criança
Das festas de padroeiro,
Das missas, da vizinhança,
Do Riacho do Navio
Que banha a sua lembrança.
Como é imensa a bonança
Da árvore farta da arte!
O cordel que vem da feira
Se espalha por toda parte
E o aboio virou canto
Para Ana um estandarte.
Estava pronto o encarte
Da menina já crescida
Que seguiu pra capital
Para melhorar de vida
E foi na literatura
Que construiu sua lida.
Carreira estabelecida,
Ao se tornar professora,
Já casada, já com filho,
Veio a chance promissora
Ao assumir a Coqueiro,
Uma importante editora.
Assim, líder e editora,
Se destacou no mercado,
Elevou todo cordel
Pra ser comercializado
E junto de cada história
Cada autor era elevado.
Foi imenso o resultado
Vindo nessa investidura:
Se apequenavam o cordel,
Aninha dava estrutura
De crescer, de vender mais
A nossa literatura.
Os versos ganham postura
Nos palcos, grandes eventos,
Com stand, com aplauso,
Com união, com intentos,
Levando nomes conhecidos
E revelando talentos.
Muitos reconhecimentos,
Porém muitos desafios,
Aninha sabe chover
Mesmo em dias de estios:
Se a chama da rima apaga,
Ela acende esses pavios.
Defende o cordel na mão
Do professor, da escola,
Defende a poesia oral,
Cantoria de viola,
E sempre tem um folheto
Preenchendo uma sacola.
Na produção se decola
Com mulheres no cordel,
Que vêm conquistando espaço
E cada vez mais papel.
Sabemos bem que essa luta
Nunca tem gosto de mel.
Aninha passa o pincel
Para ir mudando as cores:
Leonardo, Arthur e Lucas
Seus três filhos, três amores,
Devem ter bastante orgulho
Da mãe rica de valores.
Velhos passos precursores
Nos dão mais conhecimento,
Provando que a cultura
Não se ergue de momento,
Mas se faz das mãos unidas
Que plantam pertencimento.
Gosto deste ensinamento:
Poeta não é somente
Quem faz versos e poesia
Mas é também quem a sente,
Quem sabe o valor do fruto,
Sem esquecer da semente.
Eis a poesia presente
Da alma de quem refaz:
É com gente feito Aninha
Que a nossa verve não jaz…
Viva a arte e o cordel
E viva Aninha Ferraz!
Ficha Técnica
Autoria: Isabelly Moreira
Curadoria: Museu da Pessoa
Xilogravura Capa: Lucelia Borges, sobre desenho de Jô Oliveira
Design Gráfico: Mariana Afonso
Impressão: Editora Coqueiro
Revisão e Consultoria: José Santos e Marco Haurélio
Isabelly Moreira é natural de São José do Egito (PE), berço de grandes poetas populares do Nordeste. Poetisa e ativista cultural há mais de dez anos, é autora do livro Canta Dores e de diversos títulos de cordéis, incluindo títulos voltados para a literatura infantil. A artista também desenvolve trabalhos de consultoria e assessoria de políticas culturais. Enquanto produtora cultural, integrou diversos projetos no calendário artístico da região, ganhando destaque como uma das poetisas contemporâneas mais relevantes de Pernambuco.
Lucélia Borges é xilogravadora, contadora de histórias, terapeuta holística e pesquisadora da cultura popular brasileira. Mestre em Estudos Culturais pela USP, pesquisadora de cultura popular, ilustrou vários folhetos de cordel e livros como A Jornada Heroica de Maria e Contos Encantados do Brasil, de Marco Haurélio, ambos premiados com o selo Cátedra-Unesco (PUC-Rio) e com o selo
Altamente Recomendável, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Escreve textos sobre cordel e xilogravura no blogue Xilo-Mulher (xilo-mulher.blogspot.com).
Jô Oliveira, mestre dos quadrinhos, das artes plásticas e da literatura infantojuvenil, é pernambucano da Ilha de Itamaracá. De família paraibana, passou a infância em Campina Grande, de onde migrou, aos 11 anos, para o Mato Grosso do Sul e, no início de sua vida acadêmica, para o Rio de Janeiro, onde cursou a Escola de Belas Artes da UFRJ. Em 1969 mudou-se para Budapeste, capital da Hungria, onde ingressou na Escola Superior de Artes Industriais. O seu trabalho de conclusão de curso, uma versão do bumba meu
boi, lançado em 1974, foi reeditado 40 anos depois, com texto de Marco Haurélio, e batizado como Mateus, Esse Boi é Seu. Teve livros lançados na França, Alemanha, Grécia, Dinamarca e Suécia. Participou de exposições artísticas em vários países, e, por duas vezes, recebeu o prêmio pelo melhor selo do mundo na cidade de Asiago, Itália, e recebeu quatro vezes a medalha Olho de Boi pela criação do melhor selo brasileiro. Recebeu, ainda, o Prêmio Tucuxi
de Ilustração, o Troféu Carlos Estevão de Humor e o Troféu de Grande Mestre dos Quadrinhos.
Realização

Ana Cely Ferraz, ou Aninha Ferraz, pernambucana de Floresta, é um dos nomes mais importantes da editoração popular de literatura de cordel no Brasil. Lançou mais de mil folhetos, além de livros adultos e infanto-juvenis. Por meio da Editora Coqueiro, sediada no Recife, fundada pelo jornalista Ivan Maurício, Aninha revelou grandes nomes do cordel e divulgou obras dos consagrados poetas José Costa Leite e Chico Pedrosa, entre outros.