Conteúdos:
Quero falar de um Museu,
Espaço que nos conduz
Pela história de uma língua
Que ao mundo inteiro seduz,
Museu que está situado
Em plena Estação da Luz.
Santa Musa que ajudou
Os poetas do passado,
Que guiou Homero e Safo
A construir seu legado,
Ajude também a mim
Neste cordel encantado.
Quero falar de um Museu,
Espaço que nos conduz
Pela história de uma língua
Que ao mundo inteiro seduz,
Museu que está situado
Em plena Estação da Luz.
Quando este Museu surgiu
Ninguém tinha a dimensão
Do impacto que ele teria
Para além desta nação,
Celebrando a língua viva,
A movente tradição.
A ideia, que era tão boa,
Gerou dúvidas no início:
O Museu, que ocuparia
Um histórico edifício,
Junto de outros aparelhos,
Traria qual benefício?
Museu da Língua? O Que é isso?
Se a língua sempre evolui,
É objeto de Museu?
Será mesmo que conflui?
Quais serão seus conteúdos
Se a língua é rio que fui?
Também se levou em conta
Que estaria situado
Junto à estação de trem
No edifício desenhado
De acordo com a visão
Que imperava no passado.
Enfim, eram tantas dúvidas,
Pois não havia no mundo,
Um Museu voltado à língua,
E, num esforço profundo,
O projeto se nutriu
De um pensamento fecundo.
Se não havia no caso
Um acervo especial,
A ideia era apresentar
Uma visão social
E histórica desta língua
Com seu valor cultural.
Obra coletiva, aberta,
Que visava oferecer
A experiência que ajuda
De certa forma a trazer
À luz este patrimônio
Para o mundo o conhecer.
Mostrar que a nossa língua,
Rica e multifacetada,
Em encontros, desencontros,
Com o tempo foi moldada
Entre culturas diversas,
Por muitos povos falada.
O projeto do Museu,
Obra aberta e coletiva,
Trata, portanto, da língua
Como uma entidade viva,
Feita da diversidade,
Antiga, nova e altiva.
Nossas origens formadas
De diferentes matrizes
Africanas, portuguesas
E indígenas, nas raízes,
Infelizmente forjaram
Preconceitos infelizes.
Portanto, o Museu buscou
Valorizar o diverso,
Combater os preconceitos,
E o pensamento perverso
Nascido da ignorância,
Buscando sempre o inverso.
Valorizar a cultura,
Fugindo à submissão
Aos modelos europeus,
Recusando, com razão,
Padrões norte-americanos…
Abaixo a dominação!
A partir dessas ideias,
Concebeu-se um Museu vivo,
Muitos profissionais,
Do mais variado crivo,
Contribuíram gestando
Um trabalho coletivo…
…Que reuniu cineastas,
Engenheiros, tecnólogos,
Poetas, artistas gráficos,
Roteiristas, museólogos,
Arquitetos e linguistas,
Músicos e antropólogos.
Ao trazer a língua viva
Para dentro de um Museu,
Com seu complexo universo
De signos, se empreendeu
Um esforço memorável
Que o tempo reconheceu.
A língua viva é o código
Central de nossa cultura,
Varia no tempo e espaço,
Transforma-se e configura
Num instrumento que eleva
O saber a toda altura.
O público compreendeu
E, apesar da estranheza
De lidar com o impalpável,
Sobressaiu-se a beleza,
Levando milhões às filas,
Mantendo uma chama acesa.
Nos seus dez primeiros anos,
O Museu rompeu grilhões
E paradigmas, de fato,
Atraindo multidões,
Demolindo padrões velhos,
Criando novos padrões.
Contudo, em dois mil e quinze,
Em dezembro aconteceu
Em uma manhã chuvosa
O incêndio que interrompeu
Nosso sonho coletivo
E destruiu o Museu.
Em dois mil e dezessete,
O Estado e a Fundação
Roberto Marinho planejam
A total reconstrução
Do Museu para atender
A toda a população.
Qual a Fênix mitológica
Nosso Museu renasceu,
E depois de cinco anos
Novamente reviveu,
Sendo o mesmo de outros tempos
E sendo um novo Museu.
O Museu segue centrado
No Português do Brasil,
Com suas variações,
Mas a nenhuma é servil,
Pois todas trazem riquezas
E uma só vale por mil.
Também no mundo lusófono,
Países e regiões
Em parcerias firmadas,
Várias instituições
Colaboraram trazendo
Ricas contribuições.
O Museu prossegue aberto
Enaltecendo a beleza
Que eu canto agora em cordel,
Com cristalina certeza
De que devemos saudar
Nossa Língua Portuguesa.
Ficha Técnica
Autoria: Marco Haurélio
Curadoria: Museu da Pessoa
Xilogravura: Lucélia Borges
Diagramação: Claudia Letícia de Souza Pinto
Impressão: Gráfica e Editora Cinelândia
Revisão e Consultoria: Marco Haurélio
Marco Haurélio é escritor, professor e divulgador das tradições populares. Tem mais de 50 títulos publicados, a maior parte dedicada à literatura de cordel, gênero que conheceu na infância, passada na Ponta da Serra, sertão baiano, onde nasceu. Dedica-se ainda à recolha, estudo e salvaguarda dos gêneros da tradição oral(contos, lendas, poesia), tendo publicados vários livros, como Contos folclóricos brasileiros, Contos e fábulas do Brasil, Vozes da tradição e Contos encantados do Brasil. Vários de seus livros foram selecionados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil(FNLIJ) para o Catálogo da Feira do Livro Bolonha, Itália, e receberam distinções como os selos Seleção Cátedra-Unesco(PUC-Rio) e Altamente Recomendável (FNLIJ).
Finalista do Prêmio Jabuti em 2017, em sua bibliografia destacam-se ainda Meus romances de cordel, O circo das formas, Tristão e Isolda em Cordel, A jornada heróica de Maria. Mestre em Teoria e História Literária(Unicamp), estuda, ainda, as relações do cordel com a tradição oral e ministra cursos sobre cultura popular, mitologia e contos de fadas em espaços os mais diversos. Também é curador da mostra Encontro com o Cordel.
Lucélia Borges Nasceu em Bom Jesus da Lapa, sertão baiano, em1981, e viveu muitos anos em Serra do Ramalho, região do MédioSão Francisco, em companhia da bisavó Maria Magalhães Borges(1926-2004), uma grande mestra da cultura popular. Em 2006, mudou-se para São Paulo, onde reside até hoje, atuando como produtora cultural, xilogravadora e contadora de histórias. Dedica-se ainda à pesquisa das manifestações tradicionais do interior baiano, com destaque para as cavalhadas dramáticas de Serra doRamalho e de BomJesus da Lapa, tema da dissertação de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP).
Ilustrou vários folhetos de cordel e os livros A Jornada Heroica de Maria, de Marco Haurélio (Melhoramentos), Ithale: fábulas de Moçambique, do professor e escritor moçambicano Artinésio Widnesse (Editora de Cultura), Moby Dick em cordel, de Stélio Torquato (Nova Alexandria), além de Contos encantados do Brasil (Aletria), de Marco Haurélio, O Sonho de Lampião (Principis), de Penélope Martins e Marco Haurélio, e Muntara, a Guerreira (Abacate), dePenélope Martins e Tiago de Melo Andrade.
Realização