Paulo Freire: O Educador sem fronteiras

Conteúdos:
O mundo o reverencia
Por seu verbo destemido
Viveu para ensinar,
Por isto é reconhecido
E em muitos outros países
É respeitado e querido.

Às musas peço licença
Para me apresentar:
Sou poeta cordelista
E nesse meu versejar,
Carregado de emoção,
Quero uma história contar.
Vou falar de um cidadão
Que o mundo inteiro conhece,
Patrono da Educação,
Como de fato merece
Orgulho da nossa terra
Que nosso chão engrandece.
Paulo Reglus Neves Freire
Foi ele assim batizado,
Recife, a sua cidade,
Pernambuco, o seu estado;
Um nordestino que o mundo
Conhece bem seu legado.
O seu pai era Joaquim
Do Rio Grande do Norte,
Sua mãe era Edeltrudes,
Pernambucana de sorte,
Pois quem nasce no Nordeste
Já tem na sina ser forte.
Era um dos quatro filhos
Do núcleo familiar:
Três homens, uma mulher
Contemplavam o seu lar,
Filhos de grande nobreza
De um casal exemplar.
Dezenove de setembro
Do ano de vinte um,
O menino Paulo nasce
Numa década incomum,
Cresceu e ganhou o mundo
Mais um papa-jerimum.
Sua infância no Recife,
No bairro Casa Amarela,
Estrada do Encanamento,
Como ele próprio revela,
Era rica de lembranças
De uma existência bela.
Porém nos anos de vinte
O mundo inteiro assistiu
Um abalo na economia,
Como nunca ninguém viu,
E uma crise financeira
Que o país sucumbiu.
Afetou a classe média,
À qual ele pertencia,
E a qualidade de vida
Pouco a pouco decaía
E grandes transformações
Tiveram seu dia a dia.
A crise na economia
Abalou o mundo inteiro
E assim sua família
Mudou o seu paradeiro:
Saindo da capital,
Foi morar noutro terreiro.
Mudou pra Jaboatão,
Uma cidade vizinha,
Na busca por obter
Vida melhor que a que tinha,
Tentando driblar a crise,
Que a família já vinha.
Foi o Morro da Saúde
A nova comunidade,
Lugar que os acolheu
Na nova realidade,
Que ele sempre voltava
Para matar a saudade.
Mas já em Jaboatão
A crise se agravou,
O seu pai foi reformado,
Da polícia se afastou…
Não conseguindo outro emprego,
Em casa se arranjou.
Montou uma oficina
E em casa trabalhava,
Fazendo isso e aquilo
Que o freguês contratava,
Botando em dia a leitura,
Pois de ler também gostava.
Essa presença paterna
Que tinha no dia a dia
Foi de grande importância,
Viver nessa companhia
Na formação do menino,
Que pouco a pouco crescia.
A mudança também foi
De grande transformação
Pra quem saiu de Recife,
Onde a casa era a nação…
Jaboatão foi um mundo
Da maior imensidão.
Morar às margens de um rio
Mudou a geografia:
O quintal de sua avó
Era o que ele conhecia;
Lá o mundo se expandiu
Como se fosse magia.
No convívio social
Também foi grande a mudança:
Com os filhos de camponeses
Conviveu desde criança,
Também da classe operária,
Que era a sua vizinhança.
Nesse tempo, ele passou
Por uma certa escassez
E, para abrandar a fome,
Comia as frutas da vez;
Um tempo de aprendizado
Que lhe legou altivez.
Quando ainda muito jovem,
Começou a perceber
As injustiças do mundo
Nas formas de conviver
E o preconceito de classes
Começou compreender.
Pra quem nasceu com o dom
De ver com muita clareza
As injustiças do mundo,
Logo teve uma certeza:
Que lutar por igualdade
Era a sua natureza.
Demorou para entrar
No curso de admissão.
Começou tarde o estudo,
Mas teve a constatação
Que aprender com o mundo
Foi a sua formação.
Começou a estudar
Atrasado na idade,
Mas tinha pra compensar
Grande força de vontade
E a sede interminável
De saber e liberdade.
Por falta de condições
Não pôde se preparar.
Ginásio Pernambucano,
Ficou difícil de entrar;
Para o ensino privado
Teve ele que apelar.
Por um ano, ele estudou
Numa escola privada.
E com muito sacrifício,
Completou essa jornada,
Mas ficou na iminência
De fazer uma parada.
Mas sua mãe foi à luta
Por uma bolsa de estudo.
Para que o filho estudasse,
Ela enfrentaria tudo,
Pois sabia que seu filho
Era rico em conteúdo.
Bateu em todas as portas
Que ela pôde bater
E já para desistir,
Sem o desânimo conter,
Numa última tentativa,
Viu a sorte acontecer.
O Ginásio Osvaldo Cruz
Foi a sua tentativa
E o Doutor Aluísio
De forma muito assertiva
Lhe concedeu uma bolsa
E a esperança está viva.
Logo entrou na faculdade,
Fez o curso de Direito
Mas foi a Pedagogia
Que se aninhou no seu peito
E como um educador
Teve do mundo o respeito.
Dedicou-se com afeto,
E nessa dedicação
Criou um novo modelo
De alfabetização
E o método Paulo Freire
Ultrapassou a nação.
O mundo o reverencia
Por seu verbo destemido
Viveu para ensinar,
Por isto é reconhecido
E em muitos outros países
É respeitado e querido.
O Mestre é reconhecido
Doutor em Pedagogia,
Foi professor de História,
Também de Filosofia.
Faculdade do Recife
Foi a sua companhia.
A sua mente inquieta
Lhe deu várias direções,
Em cargos que assumiu
Fez grandes transformações,
Passou por várias cidades,
Exerceu muitas funções.
Contudo, foi em Angicos,
No Rio Grande do Norte,
Sua grande experiência
De fazer um povo forte
Através da educação
Pra não depender da sorte.
Num curto espaço de tempo,
Ele alfabetizou
Mais de trezentas pessoas
Que o destino transformou
E a sua pedagogia
O mundo inteiro aprovou.
Como sempre, defendeu
De forma extraordinária
O amor à liberdade,
Ação revolucionária:
Foi ele preso e exilado
Da forma mais arbitrária.
Contudo, continuou
A viver para ensinar
Com sua pedagogia,
Para o mundo transformar
Num lugar que a liberdade
Esteja além de sonhar.
Para muito além do homem,
Que à educação deu luz,
De sentimento elevado
Que só ao amor conduz,
Salve o Mestre Paulo Freire
Cuja história reluz!
Ficha Técnica
Autoria: Jorge Filó
Curadoria: Museu da Pessoa
Xilogravura Capa: Valdeck de Garanhuns
Design Gráfico: Mariana Afonso
Impressão: Editora Coqueiro
Revisão e Consultoria: José Santos e Marco Haurélio
Jorge Renato de Menezes, poeta conhecido artisticamente por Jorge Filó, nasceu em Recife em 1969, filho de Manoel Filomeno de Menezes e Maria do Socorro de Menezes, mas, quando bebeu água a primeira vez, já foi no Sertão do Pajeú. Viveu a infância entre as cidades de Tuparetama, São José do Egito, Arcoverde e Recife. Da adolescência à fase adulta, viveu na cidade de Arcoverde, onde deu início ao exercício da arte e da produção cultural, quando se mudou para o Recife em 1999, onde reside até hoje. É poeta, cordelista, declamador, palestrante e divulgador da arte dos poetas repentistas, meio em que viveu ativamente, desde da infância. Faz cordel sob encomenda, é coordenador, apresentador e oficineiro de mesas de glosas, cordel e é produtor cultural. Sua principal referência poética é seu pai, o Poeta Manoel Filó. Já participou de várias coletâneas de livros, filmes, séries, docs…sempre falando sobre poesia, repente, glosa e cordel. Tem três livros publicados e já fez centenas de cordéis sob encomenda.
Valdeck de Garanhuns, como o próprio nome indica, é pernambucano de Garanhuns, artista popular, mestre em vários ofícios, do cordel à xilogravura, artesão, contador e cantador de histórias, criador de mundos em palavras e entalhes, em minúcias e detalhes. Mestre do teatro de mamulengos, reconhecidamente um dos maiores do país, criador de tipos memoráveis, ator, humorista, coletor de lendas e mitos, compositor e poeta, reúne o que há de
melhor no Brasil brincante. Presença marcante em incontáveis eventos, incluindo mostras de cultura e bienais literárias, sempre com excelente acolhida do público, em especial quando dá vida e voz aos personagens do teatro de bonecos de Pernambuco. Recentemente foi condecorado como Cavaleiro na Ordem do Mérito Cultural, honraria concedida pelo Ministério da Cultura a personalidades que contribuem para a valorização e difusão da
cultura brasileira.
Realização

Paulo Freire (1921-1997), um dos maiores educadores brasileiros, é mundialmente conhecido, especialmente por sua obra Pedagogia do Oprimido e pelo revolucionário método de alfabetização que leva o seu nome. É um dos teóricos da educação mais respeitados no mundo inteiro. Manifestou-se contra o que chamou de educação “bancária”, argumentando que cada aluno trazia conhecimentos e experiências, lançando, assim, as bases para uma educação libertadora.