Nasci na cidade de Oruro. Nasci em casa e a parteira foi minha avó. Minha mãe era comerciante, estava sempre viajando, então eu fui adotada pela minha avó materna e pelo segundo marido dela. Eles eram indígenas. Ela era de Potosí e falava aymara e quéchua.
Uma vez perguntei para minha mãe: “Por que você não gosta de mim?” Aí ela falou: “Porque você é mulher”. Antigamente, quando nascia uma mulher:
“Não!”.
Se nascia homem, ao contrário, era comemorado. Ela falou: “Você vai sofrer igual eu, por isso que eu não gosto”. Isso aconteceu na adolescência, então eu não queria mais usar vestido, mas era forçada a ir de saia à escola. As freiras, na porta, controlavam tudo.
Eu estava sozinha e com dois filhos quando fui trabalhar com artesanato. Eu tecia e colocava os negocinhos à mão, ganhava por peça. Quanto mais fazia, mais pagavam. Eu estava nessa loja de artesanato quando de repente, no ano 1993, uma colega falou: “Eu tenho um primo que está no Brasil. Ele leva pessoas para lá e precisa de gente. Vai, aqui você sofre muito.”
A costura me abriu portas. Consertos fazemos, alguma roupinha. Artesanato também, tanto manual, quanto na máquina. Às vezes tem eventos de nacionalidades, e aí eu vou e represento a Bolívia: “Minha filha queria com aquele bordado aguayo, você pode fazer?”. “Tá bom, eu faço”. Estou aprendendo. Meu sonho é armar um ateliê, ter meu cantinho só disso, enfeitar bonitinho, tirar foto e divulgar talvez. Quem sabe?
Beatriz Morales nasceu em Oruro, na Bolívia, em 29 de julho de 1964. Ela chegou ao Brasil em 1993 - trabalhando com costura e artesanato em casa, ganhou destaque ao produzir roupas por encomenda e objetos que remetem à sua cultura.