Eu vivi a infância em escolas particulares sendo muitas vezes a única negra. Lembro que minha mãe fazia aquela maria-chiquinha para eu ir toda linda e na metade do caminho eu tirava aquilo. Chegava na escola com os cabelos black power. Eu já tinha definido que a minha estética seria a de uma menina negra.
Na hora de escolher profissão, uma hora eu queria ser jornalista, outra hora queria ser assistente social, mas depois da militância eu entendi que a contribuição que eu podia dar seria a indumentária, eu entrei na moda entendendo que meu papel seria identitário. Eu não tinha nenhum interesse em trabalhar com corpos que não fossem negros, e pensei muito de que forma ia contribuir para o resgate de autoestima de mulheres negras.
Eu fiz o Flores da Favela, que foi uma coleção apresentada na Casa de Criadores. Era exatamente isso: a inserção da periferia na moda. Trouxemos modelos negros, não negros, miscigenados; enfim, foi uma festa. Lembro que no dia da prova de figurino eu pegava aquela roupa nada a ver com cada um deles. Eu dizia: “Vista aqui”, e eles faziam aquela cara. “Gostou?”. “Gostei”. Aí, depois que terminou a prova das roupas, falei:
“Agora cada um de vocês vai escolher o look que, de fato, vocês gostaram. Aqui a gente não está lidando com um robô, com um cabide. O processo da marca Mônica Anjos não é esse”.
Por fim eles escolheram o look que, de fato, queriam e deu super certo.
Todo o trabalho de Mônica Anjos é voltado para a valorização da cultura afro-brasileira. Soteropolitana de origem, do dia 27 de outubro de 1968, inspirada por Iemanjá, ela traz orgulho e pertencimento para uma população a quem a moda oficial sempre deu as costas.