Vidas Indígenas Maranhão foi desenvolvido pelo Museu da Pessoa em parceria com a Vale e o Instituto Cultural Vale, contando com o envolvimento das lideranças tradicionais locais e de organizações indígenas. O projeto foi executado nas aldeias da Terra Indígena (TI) Pindaré, TI Alto Turiaçu e TI Caru. Os povos participantes foram Guajajara, no município Bom Jardim, Ka’apor, no município Zé Doca, e Awá-Guajá, no município Alto Alegre, todos no Maranhão.

Os objetivos da iniciativa foram realizar ações de mobilização e de formação de jovens indígenas para o registro e disseminação de histórias de vida de anciões. O propósito final do projeto era de contribuir para a valorização das memórias de pessoas cujos saberes e fazeres constituem a cultura desses povos, além de estreitar o elo entre as gerações como forma de contribuir com as suas causas.

Ao todo foram formados 41 jovens, que realizaram 70 entrevistas de histórias de vida, além de nove rodas de histórias, gravadas com as comunidades dos três povos. A formação dos participantes contemplou a Tecnologia Social da Memória do Museu da Pessoa e técnicas de audiovisual. O processo formativo resultou na concepção e organização de documentários, que trazem as trajetórias individuais e coletivas vividas em seus territórios.

A partir do desenvolvimento da autonomia e protagonismo dos grupos, os participantes ainda se engajaram com o movimento “Guardiões da Memória” com o objetivo de dar continuidade e ampliar as ações de memória construídas ao longo do projeto. 

Por meio da musealização local – Floresta de Histórias (para cada pessoa entrevistada, foi plantada uma árvore e instalada uma placa com referência à sua história de vida), este movimento também promoveu a socialização das histórias, conectando as suas memória às questões de preservação socioambiental. 

Metas e resultados

  • Formação de 52 pessoas, que atuaram nas ações de registro e disseminação das histórias de seus parentes anciões. Nos Guajajara, foram formadas duas lideranças e 16 jovens (8 TI Pindaré e 8 TI Caru); nos Ka’apor, sete lideranças e 13 jovens; e nos Awá-Guajá, duas lideranças e 12 jovens (4 TI Alto Turiaçu e 8 TI Caru).
  • Registro e disseminação de 70 histórias de vida: 44 dos Guajajara, 19 dos Ka’apor e sete dos Awá-Guajá.
  • Realização de nove rodas de histórias de vida com as comunidades dos três povos, gravadas pelos jovens.
  • Participação de cerca de 500 pessoas das comunidades dos grupos formados, incluindo a presença nas rodas de histórias e no evento de culminância do projeto.
  • Participação direta dos jovens formados na elaboração de produtos, além dos previstos, para a socialização das histórias de vida.
  • Criação do movimento Guardiões da Memória com o envolvimento dos três povos e objetivo de continuar e ampliar as ações de memória na perspectiva de formação de uma grande rede.
  • Geração de renda por meio da bolsa para os participantes, contratação de serviços de audiovisual dos jovens formados, produtores locais, cozinheiras, dentre outros.

Etapas

  • Realização do projeto em parceria com a Vale, incluindo acompanhamento local das ações.
  • Diálogo constante com lideranças tradicionais e organizações indígenas locais, da concepção ao planejamento e mobilização das comunidades.
  • Constituição de um grupo de jovens em cada território para participar do projeto, escolhidos por meio de critérios definidos juntamente com as lideranças locais.
  • Participação das lideranças das aldeias envolvidas em rodas de histórias e em entrevistas de registro de suas memórias, além de momentos da formação.
  • Apoio logístico das organizações indígenas dos três povos para o transporte interno dos participantes e no preparo e mobilização em todas as atividades.
  • Processo formativo em três etapas, com duração média de 10 dias cada e intervalo entre etapas, quando os participantes executaram atividades em continuidade aos conteúdos aprendidos e elaboração de produtos.
  • Evento final de culminância do projeto com mobilização, socialização dos produtos e participação ampliada das comunidades.

Os produtos

  • 70 Vídeos editados com trechos das entrevistas de cada pessoa – entrevistas realizadas e vídeos editados pelos participantes.
  • 3 documentários articulando essas narrativas (2 Guajajara, 1 Ka’apor e 1 Awá) produzidos pelos participantes a partir dos registros realizados.
  • 1 Folheto de poesias bilíngue em cordel feitas pelos jovens Ka’apor participantes sobre as histórias de vida produzidas.
  • 70 Placas elaboradas em homenagem aos entrevistados, para a Floresta de Histórias nos três territórios.
  • Floresta de Histórias: plantio de uma árvore para cada pessoa e uma placa com referência a sua história de vida.
  • Coleção de cada povo envolvido na plataforma do Museu da Pessoa com a gravação das entrevistas na íntegra e editadas, sinopse das histórias, minibiografia de cada entrevistado/a e tags.

Os impactos

  • Participantes diretos: jovens com novas habilidades na Tecnologia Social da Memória e no campo do audiovisual, conhecendo outras versões de sua própria história e valorizando a sua cultura; engajados na preservação das memórias de seus povos, sentindo-se reconhecidos como agentes de transformação; geração de renda e potencial para novas ocupações a partir das habilidades adquiridas.
  • Comunidades envolvidas: comunidades mobilizadas e sensibilizadas para o valor das histórias de vida e de sua própria cultura, estreitamento das relações intergeracionais, com os jovens dando mais valor à experiência de vida e saberes dos anciões, e estes reconhecendo os jovens como agentes de transformação.
  • Sociedade em geral: registro, preservação e disseminação das histórias de vida e saberes dos anciões de cada território, contribuindo para o fortalecimento de suas ações em defesa de direitos; produção de novos conteúdos e produtos com potencial para uso educativo em escolas e instituições de ensino e pesquisa; movimento Guardiões da Memória articulando-se com o movimento Guardiões da Floresta.

Os desdobramentos

  • Consolidação dos grupos de jovens como Guardiões da Memória e criação de canais de comunicação de novos registros realizados.
  • Jovens formados fazendo formação de outros jovens no território e participando como monitores na formação de outros grupos.
  • Jovens formados realizando encontros para sensibilização à TSM e ao uso educativo das histórias de vida através do livreto de poesias, documentários e exposição na plataforma do Museu da Pessoa, como os Guajajara – TI Pindaré para grupo de estudantes da faculdade de Educação da região;
  • Realização de ações conjuntas entre Guardiões da Memória e Guardiões da Floresta.
  • Participação dos jovens formados na exposição e no festival no Centro Cultural Vale Maranhão: apresentação dos documentários, roda de conversa e oficina sobre o registro e preservação de memórias.