Em sua história, Manoel Guajajara aborda um pouco da sua infância, quando por volta de 7 anos residiu na aldeia Areinha, local onde está atualmente. Também relatou que aos 16 anos mudou-se para a capital e passou a viver com a mãe, mas existia um sentimento de prisão nos anos em que viveu em São Luís. Segundo Manoel, graças a evolução da tecnologia, entrou em contato com o pai e, em 2012, retornou à Areinha, pois conhecer o pai biológico era um grande sonho seu. Desde então passa a viver um recomeço, sentindo que tudo ali que a terra proporcionava e a vida na aldeia, lhe pertenciam. Anos depois o seu casamento chegou ao fim e teve que assumir os filhos. Ele conta que aprendeu a arte da pesca e buscou conhecimento no roçado como formas de sobrevivência e ajuda no desenvolvimento dos filhos. Lembra ainda que foi guardião da floresta e durante esse tempo obteve fortes experiências e aprendizados, além de estar presente nas manifestações culturais e na luta pelos direitos indígenas.
Nasci num lugar por nome de São João aqui em Bom Jardim, o meu pai biológico, conheci em 12 de janeiro de 2012, depois que as coisas vieram se evoluir mais através do celular e das filmagens, aí me interessei e vim conhecer ele aqui, aí ele disse: Manoel, a minha família aqui é pouca, tu não quer morar aqui com a gente? E até hoje estou aqui com ele, foi bom, porque o sonho do filho é conhecer o pai, acho que ele é o melhor pai do mundo, a gente tem que elogiar, com certeza ele preparou isso aqui pra gente, estamos aqui juntos e até chamo isso aqui de paraíso, pois lá fora ninguém pode dormir de porta aberta, aqui nós pode! Tem a terra, tudo plantadinho, quer alguma coisa, é só colher e isso é muito importante.
Passei 7 anos na aldeia, quando cheguei em São Luís, tinha meus 16 anos, vivi um bom tempo lá, quando cheguei aqui fizeram até uma missa para me batizar, minha paixão era tão grande, sempre dizia que nunca iria tirar meu documento, só quando conhecesse meu pai, tirei meu documento aqui e me batizei aqui, o que mais me marcou é que quando o índio sai da terra de onde ele nasceu, ele está numa capital ou em outro lugar, ele se sente preso, no dia que eu cheguei aqui, comecei a sentir o cheiro do rio, da água, do campo, achei que aquilo ali fazia parte de mim. Um dia também o rio estava cheio e fomos pescar, quando ia na frente, ia chorando, porque muito tempo eu não via, não sentia, então eu senti que aquilo ali me pertencia.
Na capital tudo é comprado, onde você procura um serviço, você encontra, inclusive na construção civil tem muito, já aqui não tem, mas a gente também tem os benefícios que vai ajudando, aqui é bom demais, já me acostumei, as vezes vendo estrume, pesco, faço carvão e vendo.