Na época em que seu Sebastião nasceu, na década de 1940, os missionários o proibiram de falar a sua língua materna e aprender os conhecimentos tradicionais indígenas, bahsese, danças e todos esses rituais milenares. Os missionários afirmavam que eram coisas do demônio. Algumas pessoas de sua geração conseguiram preservar esses saberes porque aprenderam com os conhecedores em suas andanças, mas devido a todas essas opressões seu pai não lhe repassou os fundamentos da sua tradição.
Ele utiliza cacuri na pesca
Esse mestre ancião
Quando vê a cachoeira da onça
Já fisga a inspiração
Pescador marupiara
O tariano Sebastião
Sebastião nasceu em 1945, na comunidade Santa Maria, em Iauaretê e tem 77 anos. Em sua infância, apanhava por causa das bagunças que fazia, aprendendo lições que marcaram sua vida. Seu pai tentou passar o conhecimento, no entanto, ele não manifestava interesse. Quando criança, seu pai orientava a tomar cuidado com a Cachoeira das Onças, porque é um lugar sagrado, e por isso ele não se apegou muito na pescaria. Frequentou o colégio a partir de 1955, lá fazendo curso de alfaiataria. No internato, os padres proibiam rituais indígenas, condenando-os como “coisa do demônio”. Abandonou os estudos para ir atrás do irmão mais velho. A trabalho, realizou vários deslocamentos, trabalhando com seringa na Colômbia, com a missão salesiana em Iauaretê, e também em São Gabriel da Cachoeira. Com a morte de sua mulher, passou a sustentar seus filhos com venda de frutas, como açaí-do-mato, bananas, bacabas e outros produtos. Seus avós foram convidados pelo cacique Leopoldino a viver na comunidade Santa Maria.