Meus pais se conheceram num daqueles bailes japoneses do interior. Ela era de Marília; ele, de Bilac. Só depois vieram para São Paulo. Cresci num bairro chamado Vila Guarani, perto do Zoológico.
Na escola, eu queria criar acessos de comunicação entre as pessoas. Como não encontrava nada ali capaz de me levar a esse universo, eu flanava por outros mundos, pelo underground.
Foi assim até perceber que essa forma de conectar pessoas e criar comunidades acontecia na moda.
Participando de cursos da Rhodia, eu conheci muitos profissionais da área de confecção. Aquilo foi meu LinkedIn e com dezesseis anos eu já trabalhava na área. Quando surgiram as Semanas de Moda, fiz um desfile autoral no Phytoervas Fashion, e me tornei estilista e diretor criativo da Zoomp. Durante o dia, eu era funcionário e, à noite, desenvolvia coleções para exibir nas mostras.
Vivi dessa forma até que veio o tsunami da fast fashion que levou à que-bra-dei-ra as indústrias e as marcas do país.
Em meio a esse cenário, eu fiz o Desfile de papel.
O conceito era colocar, na mais simples matéria, tudo que havia de excelência humana, de saberes, de artesanias, e criar magia.
Fazer um desfile com roupas de papel e pedir para as modelos rasgarem no final em uma Semana de Moda era um manifesto, mas a receptividade foi muito positiva.
Se, por um lado, eu fechei uma porta, outras infinitas abriram-se depois.
Jum Nakao nasceu em São Paulo, 22 de outubro de 1966. Designer de moda e diretor de criação, fundou seu ateliê em 1997. Dali para cá notabilizou-se por desenvolver uma técnica de modelagem tradicional e por propor uma ruptura com a moda feita sem valorização da arte e da sensibilidade.