Minha loja foi aberta em 2001, e aí vem uma grande virada na história. Até então minhas coleções estavam ligadas a um ritmo de vida da cidade e eu penso em trabalhar uma coleção a partir dos sentidos sensoriais. Só que pensar todos os sentidos era muita coisa, então eu escolho a visão, e da visão eu vou para a cegueira.
Um dos grandes problemas para pessoas com deficiência visual é: de que cor é essa roupa? Como eles fazem a separação? Como diferenciam a camisa que é branca da que é azul, da que é vermelha, no guarda-roupa? Como eles sabem, se a camisa é do mesmo modelo? Conversa vai, conversa vem, surge a ideia: e se a gente identificasse essa roupa?
E aí a gente lança as etiquetas em braile.
Muitas vezes o pessoal da imprensa perguntava: “Vocês fazem moda para pessoa cega?”. E eu falava: “Não, eu faço moda para pessoas”. Muitos dos homens com quem a gente conversava falavam assim: “Às vezes, eu saio com a roupa virada do
O S S E V A.”
Então, na hora de criar, já pensava: a gente precisa fazer uma roupa sem avesso. A diferença era essa preocupação com algumas características da roupa, para além da etiqueta, em função de trazer um produto que se adaptasse ao ritmo de vida das pessoas.
Geraldo Lima é belorizontino, nascido no dia 05 de janeiro de 1958. Figurinista e designer de moda, trabalha com grupos de teatro, dança e shows musicais. A grande virada em sua vida aconteceu em 2001, quando uma série de estudos o levou a produzir roupas para um público ignorado pela indústria: as pessoas com deficiência visual.