Maria Madalena Guajajara tem 83 anos e nos conta com muita lucidez sobre os dois casamentos que teve. O primeiro marido foi Zé Bernardino, que não era um bom companheiro e deixava Maria passando dificuldades para se alimentar com os filhos. Ela consegue se separar dele, volta para casa do pai e conhece Pedro, com quem vive até hoje. Ela também lembra de uma história que seu pai contava sobre um Encantado que ele viu na beira do rio durante uma caçada.
Vamos supor que é três processos que a menina moça passa, primeiro quando ela menstrua a primeira vez. Hoje em dia a gente chama menstruação, mas eles lá não falavam assim, até porque não vinha todo aquele sangue, vinha apenas uma quantidadezinha marrom, aquilo ali era a menstruação da menina moça... quando vinha com sangue eles não consideravam que a menina era moça, na época. Dali a pessoa se pintava, passava 10 dias dentro do quarto, não podia sair. Aí quando completasse 10 dias, ela sai cedinho pra tomar banho com folha de batata... a gente esfregava com todo cuidado, passando alho debaixo dos pés, mastruz, essas coisas.
Aí vinha o segundo processo que é chamado mandiocaba... eles fazem pequenas pinturas no corpo só daqui pra cima... se inicia no sábado e termina domingo pela tarde. E o terceiro processo que é o último, o moqueado... esse que marcou, deu bastante menina na brincadeira e teve muitos anciãos lá. É uma brincadeira que a gente deve levar a sério, porque é o último processo. Os anciões pedem pra que a gente não fique conversando muito na hora que a gente tá participando, não deve se olhar muito para o outro, sem se coçando, coçando o olho.
No moqueado eles matavam primeiro as caças na mata e lá eles moqueavam... onde eles fazem um jirau, botam o fogo embaixo e assam só na quentura, a carne fica bem pretinha e por dentro fica bem vermelhinha. Daí vinham pra aldeia, pintavam a menina... começava dia de sábado e terminava dia de domingo pela tarde. Daquela caça também eles faziam o angú... a menina moça entregava pros anciãos numa peneira.