Nesta entrevista, Milton Silva Guajajara nos conta sobre suas memórias de infância na Terra Indígena Carú, o ambiente calmo, as reuniões que participava desde pequeno e as atividades com seus parentes, como as caças em que que costumava ir com seu avô e a plantação de roça com seus pais. Ele relata suas experiências com os encantados, figuras centrais da cultura mística indígena, assim como suas opiniões sobre a não preservação dos costumes e rituais pelos mais jovens. Também partilha conosco histórias de vivências, como a chegada da energia elétrica na localidade e as lutas passadas e diárias, como a demarcação do território indígena ao qual pertence e as ações dos guardiões para preservar a Floresta.
A história que mais me marcou, e que a gente vê que hoje não tem mais na prática, é a história de união. Quando eles diziam assim: “Vamos trabalhar!” e todos diziam: “Vamos!”. Tinha aquela roda de conversa. Todo mundo ia trabalhar só para um. Aí no outro dia, já era para outro. É assim desde do plantio até a colheita. E nós nos programamos para o próximo ano. Não existe mais essa união. E se existir, eu não tenho conhecimento.
Eu lembro que um tempo meu tio foi caçar. Passou um dia e ele não voltou. Então meu avô juntou algumas pessoas para ir atrás dele. Quando a gente chegou na beira do igarapé, os “caraiu” estavam alterados. Então descemos caladinhos. Meu tio acabou no acampamento dos “caraiu”. Eles estavam com espingardas na mão e com facão e diziam: “Mata logo esse índio!”. Quando chegamos, todos correram. Foi um momento muito tenso.