Nesta entrevista, Edinalva Guajajara partilha as suas vivências entre duas aldeias distintas: Januária e Maçaranduba, na Terra Indígena Carú. Sobre a Januária, ela narra as memórias da sua infância, a caça e a pesca com os pais, a convivência com a avó, as brincadeiras, as conversas apenas na língua nativa e o começo da vida adulta. Sobre a Maçaranduba, ela conta o aprendizado do Português na escola, um casamento aos 18 anos e a constituição da sua família. Em seu relato sobre as festas tradicionais, como a da Menina Moça, aponta os pontos positivos e negativos e, muito emocionada, descreve o momento das cantorias e as lembranças do tempo em que os parentes, ainda vivos, comemoravam alegremente a reunião da comunidade. Edinalva também fala das práticas medicinais utilizadas, antigamente, pelos pajés, bem como a mudança da alimentação ao longo dos anos, as atividades artesanais e o medo que sente dos filhos, juntamente com o pai, serem ameaçados, de alguma forma, pelo homem branco pelas ações de proteção da própria terra indígena em que vivem.
Minha vida entre duas aldeias
Meu apelido é “Muré”. Pra falar a verdade, eu não sou daqui. Eu sou da Aldeia Januária. Meus pais vieram pra cá e a gente então se mudou.
Minha mãe era de outra aldeia e meu pai da Januária. A mãe do meu pai era mestiça e ela, do tanto da convivência, não sabia mais a Língua Portuguesa. Eu também não sabia o que era Português na aldeia. Quando eu era criança, só falava a língua de lá. Depois que aprendi na escola.