Em sua história de vida, Carlos Sérgio fala da sua infância regada a muitas dificuldades, em que foi criado pela mãe, pois seu pai o abandonou para constituir família com outra indígena, e desde cedo adentrou nas jornadas de caçada que fazia junto com os primos, tios e avós, em busca de alimento para si, sua mãe e para auxiliar na criação dos seus irmãos. Conta também que retornou ao Maranhão através de uma cantoria que ocorrera na Aldeia Januária. Traz à tona memórias sobre a terra que mora, e diante dos seus olhos, viu as ferramentas indígenas para a caça e pesca sendo substituídas por armas de fogo e instrumentos criados por não indígenas, o que trata como esquecimento da cultura. Carlos relembra sua preparação para a vida adulta com outros jovens indígenas, a devastação pelo desmatamento, a chegada da energia elétrica em sua aldeia, as guerras interétnicas e a luta em defesa da terra, que fora atacada várias vezes por posseiros. Carlos Sérgio está diariamente na batalha pelos direitos indígenas, sendo membro do comitê de gestão indígena supervisionado pela FUNAI, o qual acompanha as demandas dos povos indígenas de sua terra e de outros parentes.

Eu vou contar um pouco da minha história quando eu era pequeno, antigamente morava no Pará mas nasci no Maranhão, meu pai fez uma brincadeira quando eu era um rapaz jovem e de lá pra cá vim acompanhando as brincadeiras e hoje tô nessa idade, eu pequeno em minha aldeia ela era diferente, assim era só mato, quando era jovem e hoje que eu vejo assim, que mudou totalmente pelo desmatamento, daí eu vim ver a realidade.

Vivia nu sem calção, foi mamãe me criando, pra onde ia ela me levava no mato, eu sofri muito quando eu era pequeno por causa que eu pegava chuva quando meu pai ia com mamãe pro mato fazer caçada pra me manter, até quando eu cresci, daí vim andar pra ver a realidade, hoje vejo que a terra traz muito a vida, porque onde nós sobrevive, que é a natureza. Antes o Brasil era nosso, quer dizer, o português invadiu nossa terra, e digo assim que hoje a nossa vida ela vem sendo destruída e digo assim, que é a natureza, porque se não for a natureza, aonde é que vem os indígenas? Porque para os indígenas o que tem é só a natureza hoje aqui no Brasil.

Aí nós vemos que hoje tá tudo destruído, nós estamos se organizando pra onde a gente vê onde nós buscamos apoio para preservar a nossa natureza, a nossa terra onde a gente mora, que é isso que a gente espera. É lutar para defender o que é nosso, buscar apoio dos próprios indígenas, porque antigamente eles se ajudavam, mas nós éramos tristes também porque nesse tempo era mais morte, era onde os caraeu olhavam muito o que a gente nunca vai deixar para eles, que é a nossa casa, a terra indígena, que nós estamos para defender.

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