Maria Helena Marico Guajajara diz não lembrar com exatidão do território onde nasceu, mas que junto com sua família passou por alguns lugares como o Acaruí e Faveira. Do primeiro, saíram querendo se proteger de algumas doenças. Logo depois da Faveira, foram em direção à Areinha, lugar onde vive e acumulou diversas memórias. Dentre elas, a sua brincadeira da Festa do Moqueado, que lembra de ter brincado no tempo de lua bonita, momento contado com carinho, porque marcou sua transição entre a infância e adolescência. Maria ainda compartilha como conheceu o pai de seus filhos, que foi preso diversas vezes, segundo ela, sem precisão. Outro fato que não deixa de comentar é a sua relação com o artesanato e o canto, relembrando de alguns cantos que costuma ouvir e de seu pai cantor. Também chora ao rememorar o momento do falecimento de sua mãe, dona Maria Vitória que não falava em português, só na “gíria”.
Cantoria, benzimento e cura
O meu menino, aquele Valdo, foi para roça comigo e o pai. O pai dele que não tinha o que fazer, ele gosta de comer essas coisas, viu um mamão na capoeira e derrubou o mamão. Aí nós viemos, trouxemos o mamão, na caçada tava escuro e o menino que tava perto, sabe como é o jeito de menino?!
Foi pra perto do pai dele que tava indo comer o mamão, partiu a fruta e deu pro menino. Mas o mamão tinha dono e por esse fato o menino teve febre. Tava eu e o menino num quarto e o pai dele em outro.
O menino começou a só bater o pé na rede. Aí eu pensei: "O que esse menino tá fazendo?" Então como uma galinha que a gente mata, ele foi parando o pé. Foi então que gritei: "O menino morreu!"
O Domingos, pai do menino, ouviu e disse para eu abrir o porta. Os vizinhos ouvindo aquela confusão e não tendo o que fazer foram avisar ao meu irmão. Disseram: "Eita, Domingos tá matando tua irmã!"
Lá vai os meus irmãos tudinho correndo na porta da minha casa com facão. Mas depois, o Domingos continuou me dizendo: "abre a porta, abre a porta!" . Abri a porta e falei: "O menino tá morto!". Todo mundo pegou o menino e viu que ele tava morto mesmo.
Porém, tinha o pai do Tutucum, Curino Véio! Decidimos levar o menino lá. Cheguei lá, expliquei pro velho o que havia acontecido (em língua nativa). O Curino respondeu: unhum e pronunciou algumas palavras (em língua nativa) e fez o menino voltar ao normal de novo.