Em seu depoimento, Pedro Mycuram Guajajara relembra as histórias do seu povo, nos conta sobre a Mãe d’água e como aprendeu seu canto, lembra das diversas festas comemoradas na aldeia em que vive como a da abelha e do moqueado. Mycuram nos fala sobre as suas idas na mata e o encontro com os encantados, o curupira, dono da caça, e em como é necessário respeitar a mata na hora da caça e da pescaria. Em seguida, narra a história da origem dos cantos e explica a existência do Pajé na aldeia. Por fim, fala da importância dos mais jovens aprenderem a cultura e a língua tenetehara para manter viva a cultura e costumes do seu povo.
O Encontro com o Curupira
Foi bem ali aonde que é o Santo do Camato, já tá com mais de 20 anos por ai assim que eu vim, mais pelejei pra mim fala com ele, mais ele não fala com a gente não, é um rapazinho só o cabelinho todo assim, agora as meninas é umas mocinhas pequenas, eles não muito alto não, e o cabelo das meninas são comprido, curupira é assim.
Quando é pra matar a caça assim você tem que se controla a matar, porque a caça tem dono, o dono dele é o curupira, o dono da caça, tem uma história que vovó contava pra mim até hoje eu nunca esquece, quando eu vou para o moqueado eu sempre oriento, não é pra fazer sujeira de jeito nenhum, uma vez tem uma história que mamãe contava pra mim, que os outros foram caça né pra fazer moqueado da menina, e lá fizeram sucesso com a caça e não era pra fazer isso, quando foi no outro dia o dono apareceu, o curupira né e levou uma melancia, e tinha uma menina que estava vendo ele, ai disse “tem uma pessoa que chegou ai”, com uma melancia na mão e foi botando em cima do girau. Quando o povo chegaram os pessoais dela, os irmão, as tias, os avós, pai, chegaram do mato viram aquela melancia e disse “gente quem foi que veio deixa a melancia” o irmão dela disse “pai isso daí é o namorado dela que veio deixa ai pra ela, veio lá da aldeia pra deixa a melancia, não pode comer não”, o namorado dela que ia ser o marido dela, contou assim pra ele “ olha essa melancia não é pra tu comer não, porque chegou um rapaz ai mais diferente, eu não conhecia o rapaz não, mais deixou a melancia ai, mais não é pra tu comer não de jeito nenhum, nem eu e nem você”, pois tá bom, os outros sabe como é gente em molecagem assim né, “rapaz rumora comer, a melancia ai”.
Partiram a melancia e comeram todinho, meu irmão, quando foi a noite agora, quando terminaram de comer fizeram uma coisa que não era pra fazer assim não de jeito nenhum, quando foi umas doze horas silenciou, lá vem os caras agora né e não é pouco não, meia noite assim, pois daquele mesmo que acabou o povo lá o dono da caça mesmo, foi só gente gritando “ai não come meu dedo”, esse rapaz, o namorado da menina e ela ficaram só escutado agora, e o bicho avoado em cima, os donos da caça, pois deixaram só ossada, o moqueado não prestou mais não, tá vendo ele disse pra ela “ se você tivesse comido também, tu ia ser comido eu te avisei, esse daí é o dono da caça” fizeram sucesso, da onde eles estava, jogando cabeça, fazendo sujeira o dono achou ruim, por isso nesse daí, quando a gente tá no moqueado, você tem que orienta, “olha bora fazer desse jeito”, não é pra fazer isso não, porque tem dono também isso é verdade e é o curupira, pois é essa é a história que eu sei.