Em sua entrevista, Raimunda dos Santos Guajajara nos contas várias histórias vividas dentro da mata, como o seu encontro com a onça e a mãe d’água. Ela lembra que o seu marido é o fiel companheiro de andanças pela floresta e como juntos escolheram proteger seu território. Ademais, narra as suas aventuras quando participou dos grupos dos guardiões das florestas, em que passava muito tempo longe dos seus filhos. Por fim, revela os seus conhecimentos sobre as plantas medicinais e fala um pouco sobre a sua relação com seus filhos e netos.
Onça persegue mulher grávida
Me lembra assim da onça, porque eu estava buchuda da minha menina que é a nega, eu fui arrancar a mandioca mais o Marinaldo, ele disse assim, “Raimunda, tu vai para casa, eu digo, “não vou não, eu vou ficar aqui tirando a semente de cuxá pra mim planta lá na roça” , ele foi deixar a carga de mandioca e eu fiquei cortando lá a outra enquanto ele chegava, quando terminei de corta a mandioca eu digo, “vou para a mata que eu estou buchuda e onça persegue mulher buchuda, fui lá pra roça, sai da mata e foi pra roça queimada, chegou lá botei uma varinha me sentei, estou aqui debulhando o cuxá, eu vou virar a minha costa pro rumo de casa, porque se eu virar pro rumo da mata, na hora que eu fechei minha boca, escutei ruinar atrás de mim, também nem liguei pensei que fosse os cachorros, ruinou mais feio, quando eu olho era a onça.
Eu me levantei chamou o compadre Nonato que estava com um roça perto, chamei o Marinaldo ninguém respondeu, eu digo “chega meu deus a onça vai me comer”, na hora que eu disse assim foi mesmo que dá um tiro nela, ela correu, eu digo “meu deus agora como é que eu passo por onde essa onça estava”, eu passei correndo, quando chegou mais na frente tinha uma porteira que a gente abri assim os paus, corri, corri, quando eu entrei na outra vareta pra aonde o compadre Nonato, eu não fui aonde ele, eu deixei a minha sandália no caminho, ai ele disse “rapaz será que bicho comeu essa mulher”, eu cheguei lá só fiz cai lá aonde meu sogro estava, ele disse “o que foi menina” quando eu falei eu digo “foi a onça”, eles não estavam acreditando, levei meu cunhado que morreu o finado Pombo.
Ele foi chegou lá e viu o rastro da onça, o Marinaldo perguntou, “mulher pra onde é que tu estava?“ ele disse “a onça ia comendo a tua mulher, tu deixa a tua mulher buchuda ai sozinha”, não eu chamei ela, ela não quis ir, só que andou perto de eu encher o bucho na onça. Outra vez eu estava pescando mais o Marinaldo, eu fui, quando eu vou passando assim, tinha outra de trás da palmeira, eu dei um grito, Marinaldo correu, quando correu ela só deu um pulo assim, cheguei perto de ser comida de onça duas vezes.