Em sua entrevista, Lindalva Rosa Guajajara rememora as histórias de sua infância, as brincadeiras de boneca de barro com a sua irmã, o trabalho na roça com o seu pai e o ritual da menina moça. Nos conta também sobre como era a aldeia em que vive sem energia elétrica, as rodas de conversas, as cantorias que aconteciam nesse tempo, as diversas histórias que escutava dos seus pais e avós. Ainda, nos fala que quando era jovem frequentava muito o rio e, em uma dessas passagens, avistou um encantado, um rapaz sucuruiu. Lindalva relata as dificuldades que passou com seus filhos e a perseguição que sua família sofreu. Por fim, conta a sua participação em um dos muitos protestos para a preservação das terras indígenas e reforça a importância de manter seu povo unido para luta contra os que insistem em ferir os seus direitos.
O encontro com o rapaz sucuruiu
Quando eu era jovem, eu gostava muito de banhar no rio, no campo quando começava encher, gostava bastante, sendo que eu saía as vezes escondida pra banha. Quando foi um tempo eu estava menstruada, em uma desses banhos no rio, apareceu uns rapazes bonitos era três que era, estava eu, a Rosimar e a Rosenete nesse tempo apareceram três rapazes, bonito, branco, nós saímos para fora e ficamos pensando assim “Um será da onde é esses meninos?”, nós conversamos muito, me alembro que eles não beijava, eles levava coisas para nós, uns perfumes, fita, me lembro até hoje uma fita vermelha ele botou assim no meu braço, eu fiquei viciada em banhar no rio, quando as outras meninas não ia, eu ia, banhando lá. Quando foi um dia, o tio Paré, ele sabia dessas coisas, um dia o finado Paré ele chamou a gente, ele era pajé, ele disse assim para nós “se nós não queria ir ali naquela noite, está conversando com a Mãe dÁgua, nós nos sentemos assim, eles foram só, que não víamos porque era a noite, eles foram pegava na nossa mão e a mão deles era fria, fria, os rapazes pegaram nossa mão, o Paré falou que era para eles irem embora.
E esses meninos sempre aparecendo, até hoje eu me lembro do menino branco, meio forte, lindo, lindo mesmo assim que tem horas em quando eu fico pensando, teve um tempo que adoeci o finado Paré, foi me ver, e disse, “que não era a Mãe dÁgua que estava gostando de mim, era a cobra Sucuruíu que estava se transformando em um rapaz sucuruíu, para mim para poder ele me levar, ele falou”, quando o Paré disse isso pra mim, ai que eu fiquei doente, depois pensei assim, ainda bem que ele não fez relação comigo, porque se ele tivesse feito relação, eu tinha ficado gravida, talvez eu ia parir cobra, então o finado o tio Paré ele sabia dessas coisas, ele foi que começou a afastar de mim, começou, começou a afastar de mim, aí esse rapaz não vinha mais perto de mim, deixava o perfume assim lá no caminho para eu ir lá pega, a fita também.
Um dia ele veio e tirou do meu braço e levou essa fita, até quando tem uma vez que ele veio e falou que não vinha mais pois iria embora, é porque o finado tio Paré, estava fazendo umas coisas que era para afastar de mim levou tempo pro menino sair da minha mente, até ainda hoje me lembro dessa história, por isso que que digo assim, “a gente nunca que o deve destratar dessas coisas, porque acontece, acontece com a gente, essas coisa” o tio Paré afastou esse rapaz nunca mais vim ele, depois fiquei mais doente ainda, o Pajé fez uns remédios lá pra mim, até quando eu fiquei boa.