Em sua entrevista, Maria Luzia Santana Guajajara conta sobre a sua vida, desde a infância difícil onde foi criada pelas tias, pelas várias mudanças de casa que passou, em como não possuía nada e nem ninguém para defendê-la, até a sua mudança aos 12 anos para a comunidade onde mora atualmente. Conta de como teve que se casar jovem e que teve apenas quatro filhos. Trabalhou muito durante a vida, desde a infância até conseguir se aposentar, trabalhou principalmente em atividades rurais, como quebradeira de coco e fazendo farinha de mandioca. Ao fim, conta um pouco sobre as suas experiências com a cultura e a tradição indígena.
Foi, eu tive muito sofrimento na minha vida, sofrimento porque eu sofri assim na mão de meus parente, minha tia que eu sofri, que nem eu tô lhe dizendo, eu apanhei muito, pra eu comer um pouquinha na casa de minha tia carecia eu fazer muitas coisa pra eu comer, tem vez que eu passava era o dia todinha sem comer, pra mim comer um pouquinho carecia eu ir pra casa da outra tia pra mim comer, eu só tinha uma sainha e uma redinha deste tamaninho pra mim dormir dentro, porque não tinha quem me desse, aí uma tia minha, a mãe do Adriano, eu tava deste tamaninho, disse que queria me entregar pra um velho, disse que pra mim me ajuntar com esse velho, aí disse “eu não vou, não senhora”, aí fui me embora pra casa da outra tia, pois aqui tu não come também, aí eu prefiro não comer, não vou morar com esse velho aí não, que eu sou é criança, eu não sou mulher ainda não, eu disse pra ela, e a minha vida foi muito sofrimento.
Tem hora que eu digo isso ai pros meus neto, fica me olhando, olha vocês tão é no céu, vocês tem a mãe de vocês, ainda tem eu pra ajudar criar vocês, porque no tempo que me criei eu não tinha ajuda de nada, porque eu não tinha mãe, não tinha avó, não tinha ninguém, somente minha tia e vocês não, já tem pai, tem mãe, tem eu, tem os tio que aqui acula dão né, mas eu não tive essa oportunidade, por isso é que digo que eu sofri muito, eu só tive um filho que sofreu igualmente eu também que foi Djacir, meu filho quando começou a estudar ele só tinha dois calçãozinho, nesse tempo eu não era aposentada, eu era quebrando coco, mas ele também nunca abandonou o estudo dele, hoje em dia ele tá sendo do jeito que ele tá sendo, ele de todo tempo ele dizendo assim: mãe, eu não vou largar meu estudo. Tem vez que quando ele estudava de manhã eu esperava ele chegar primeiro em casa pra ele ir tomar conta da casa pra mim ir quebrar côco, têm vez que nos ia comer só de noite, pra eu ir poder comprar comer pra nos comer, eu mais aquele filho que tenho no Tabocal, é o que mais presta atenção pra mim é ele, é sofreu do jeito que eu sofri também, é porque nesse tempo eu também não era aposentada.