Nesta entrevista, Domingos Santos Guajajara compartilha suas experiências de vida: as lembranças da infância, em que teve que se mudar da aldeia Curucutu Tamera, uma terra em que seu pai sentia que ia morrer se não saísse de lá, a juventude trabalhando com os pais no roçado e o fato de que tinham que trabalhar para depois comer. Também relata um surto de catapora que acometeu a família inteira, impossibilitou o trabalho e fez com que perdessem tudo. Fala da fartura de caça e de pesca que não se tem mais, como dos jabutis que desapareceram. Detalha o processo da preparação dos alimentos para a família e também o doloroso caso do alcoolismo do pai. Finaliza falando sobre como as caçadas eram feitas e como os “caraius” (homem branco) interferiram, ao longo dos anos, na própria região, com invasões, tráfico e extração ilegal de madeira.
“Vou tirar meus filhos daqui!”
Meu pai sabia que ia morrer naquele lugar, como minhas avós morreram. Aí, meu pai naquela situação ali: “Vou tirar meus filhos daqui”. Então ele trouxe a gente pra cá, pra essa região aqui, pra esse lugar.
E acompanhava meu pai no trabalho dele, nunca largava dele, era só com meu pai e hoje parece que eu peguei a ideia do meu pai, de trabalho também na lavoura, né! Papai criou muito criação nessa aldeia aí. Quando ele chegava da roça, o lugar mais lindo.
O peixe era manso. A gente ia pegar um caniço, pegava uma isca, uma sardinha, botava no anzol de noite, até de dia o cara ia pro poção, pegava só peixe bonito: surubim e mandubé. Pois é. Ali mesmo de dia a gente ia também pelo rio, a gente flechava um peixe na croa. Mas agora, hoje... Lá mesmo o cara fazia fogo e comia. Mas agora, hoje, cadê esses peixes que comia na croa? Não tem peixe, mais, não.