Em sua entrevista, Pedro Viana Guajajara nos conta a respeito das dificuldades vividas na infância na aldeia Piçarra Preta onde nasceu, se criou e vive até os dias de hoje. Do passado, destaca a pobreza e a insegurança alimentar vivida pelos povos indígenas, sobretudo na década de 70 e 80, e de como seus parentes não tinham apoio das entidades que deveriam salvaguardar seus direitos. Sobre a família nos fala da luta da mãe para dar conta de criar os filhos em meio a tanta dificuldade, e que ela quebrou coco babaçu e trabalhou muito. Também diz sobre a grande admiração que tem sobre seu avô, que foi liderança indígena e era muito justo e inteligente. Ainda sobre seu avô, conta que foi um dos fundadores da aldeia, além de um grande contador de histórias e que muito contribuiu para a conservação da cultura do seu povo, já que este contava as histórias na língua indígena. Por fim, relembra algumas dessas histórias e fala um pouco sobre o seu papel como liderança perante sua comunidade.
Eu nasci aqui na aldeia Piçarra Preta, cresci e tô aqui até hoje. Minha infância não foi tão fácil, nessa época de 1977,78 até os anos 80 não foi muito fácil na minha infância e adolescência. Na minha infância eu posso afirmar que nois como povo indígena não foi muito fácil, foi na época do desmatamento da terra, da mata, naquela invasão lá que já tinha iniciado anos atrás. Não foi fácil pra minha mãe, pro meu pai e vi meu avô ainda na época foi muito sofrido.
Na época do desmatamento, que veio o arrendamento do pessoal do SPI, da FUNAI depois. Não tinha mais mata, queimação muito grande na natureza foi escasso na época a caça e a pesca. Mamãe na época para nos assustentar, mãe de dez filhos, ela e meu pai tiveram que relar muito, tiveram que quebrar coco e fazer carvão para sobreviver nessas roças. A FUNAI na verdade tinham muito gado, que diz que era dos indígena, e o indígena botava roça e o gado comia.
A FUNAI tava juntando os índio e caçando um lugar para botar os indígenas, e deram esse lugar para o meu avo Manoel Viana e ai ele fundo a aldeia Januaria, que na época era conhecida mais como aldeia Criori, na época, porque nas margem tem uma ave chamada criori. Depois de um tempo, tava criando algo que ele não aceitava, de conflito e bebedeira, e aí ele fez a vinda dele aqui para aldeia Piçarra Preta com seu familiar.
Meu avõ era uma pessoal muito sábia, muito inteligente o véio meu avô ele era uma pessoa dentro dacultura, apesar dele não ser cem por cento indígena, ele falava só na língua tenteha, só na língua indígena, ele sabia um pouco também da língua dos índio Kapo. Ele conhecia Tupã, ele falava mais na língua, falava português muito assim... errado vamo dizer assim. Mas ele era sábio nos materiais culturais nos aprendizados. Ele sabia de tudo passava tudo pra nois, então assim se a gente não buscou o conhecimento não se interagiu na época para hoje não estar preparado, é o momento nosso.