Como nas fotonovelas

Eu era criança na Vila Madalena dos anos 40.

Ouvia os sons do dia a dia.

O bucheiro, homem que vendia miúdos de boi, passava pela rua e tocava a buzina para alertar aos moradores que estava passando com seus produtos.
O gato e o cachorro reconheciam aquele som e saíam correndo para a rua.

Eu acompanhava os ambulantes rua acima, rua abaixo.

Tinha os mascates.
Tinha o saqueiro.

E tinha o que era a minha predileção: o carro do lixo.
O carro do lixo era puxado por uma carroça, que era puxada por vários cavalos.
Eu adorava aquilo.

A minha mãe sempre estava insatisfeita.

A Segunda Guerra Mundial acontecia do outro lado do oceano atlântico, mas a crise havia chegado até aqui.

Meu pai era encanador profissional e muitas vezes ficava sem trabalho.

Ela sonhava com uma outra vida. Aquela das fotonovelas do Jornal das Moças.

Era uma vida na qual ela não tinha acesso.

O meu pai se desdobrava.
Dava o dinheiro na mão dela. Aquilo sumia, desaparecia.
Eles brigavam por isso.

Ela sempre tinha necessidades que não eram atendidas.

Minha mãe havia comprado um corte de tecido de um mascate que havia batido na porta.
Meu pai ficou bravo.
Eles brigaram. Ela se recusou a falar com ele.

Não sabia mais o que fazer para reconquistá-la.

Até que um amigo deu uma ideia digna das histórias de amor que minha mãe lia nas fotonovelas.

Foi uma surpresa quando vimos nosso pai orquestrando seus amigos, músicos de violão em punho e cantores de gargantas afinadas, cantando para nossa mãe.

Rosa Landi Schoueri
Núcleo Café com Biscoitos


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