Nos tempos de roça, o pessoal se reunia na varanda da casa para tocar viola e contar causos.
Podia-se ouvir meu avô tocar violino junto com outros músicos.
Bebia um bom gole de leite, pegava um punhado de pés de moleque e corria porta afora.
Sem primos ou primas por perto, eu brincava sozinha.
Ou melhor, brincava com bois, vacas e cavalos.
Eu montava o cavalo em pelo.
Às vezes mexia com alguma vaca brava e ela corria atrás de mim.
Mas era com as galinhas que ciscavam soltas pelos arredores da casa que eu travava um duelo pelos seus ovos.
Nenhuma conseguia esconder os ovos de mim.
Elas são espertas.
Andam um pouquinho. Olham.
Se tem alguém, elas disfarçam.
O silêncio dos bichos só era quebrado pelo som da minha avó molhando o sabão na água e me ensaboando.
O sol começava a se pôr quando eu colocava os pés numa tina de água fresca.
A minha avó, com sua longa saia de algodão protegida por um avental, trazia toalha e sabão.
Em minutos, eu já estava sentada ao lado do meu avô.
Ele abria a valise e tirava dali seu precioso violino.
Tocava só para mim durante o dia.
A gente passava um tempão ali. Nem sentia o tempo passar.
Como ele via que eu me interessava tanto, ele dizia: “Quando você crescer, esse violino vai ser seu”.
Hoje, tenho a mesma idade que meu avô tinha quando tocava para mim.
Não me magoei por não ter ficado com o instrumento.
Foi um tempo muito especial.
Conceição Sousa
Núcleo Café com Biscoitos
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