Sou um colecionador.
Desde criança eu colecionava rochas, moedas, selos.
Minha avó tinha moedas guardadas no criado mudo, ficou lá para o meu pai, meu pai dizia: “Quer essas moedas aqui?”. Começou com isso.
Professor já nasce feito ou professor se faz? Nunca ninguém conseguiu responder essa pergunta.
É a mesma coisa no caso de uma pessoa que quer trabalhar no museu ou que é um colecionador: “Por que você coleciona?”. Ninguém sabe realmente definir isso.
Deve ter alguma explicação metafísica para isso.
Acho que é algo que nasce com você, como um dom. Ou você gosta ou não gosta.
Acho que o historiador é isso, a pessoa que nasce com esse dom de querer preservar alguma coisa para o futuro.
Quanta coisa a gente perde da história, a gente tenta salvar uma tênue linha de alguma coisa. Seja um bule, um documento,um livro, uma roupa, o que sobra.
A mudança do tempo é tão rápida às vezes, que você não tem como salvar tudo. É impossível.
A gente ainda tenta pegar aquela pontinha do fio e segurar.
Se a gente não segurar essa pontinha do fio, vai tudo embora.
Muita gente se desfaz de objetos importantes, lembranças da própria família.
O Cláudio Prado de Mello, arqueólogo no Rio de Janeiro, fez uma escavação na área do lixão e descobriu até a escova do Dom Pedro II: “É essa indiferença com a própria história. Eu vou na feirinha de antiguidades e vejo álbuns de família sendo vendidos.”
Um herbário é uma história, você está guardando um patrimônio genético botânico.
Uma coleção de insetos é uma coleção preciosíssima, tem bichos extintos.
Caso tudo se perca, desapareça: acabou-se.
Acabou a história.
Renoaldo Kaczmarech
Núcleo Museu Campos Gerais